Se a excluída for a Odebrecht, por exemplo, não seriam
atingidos os mais de 170 parlamentares que apareceriam na delação como
recebedores de ajuda financeira. Ou propinas ou doações eleitorais, legais ou
ilegais. Tudo isso agora é a mesma coisa. Possivelmente são os mesmos que já
figuraram numa lista achada na empresa e que depois sumiu de cena. Se a
excluída for a Odebrecht, esqueça-se a promessa atribuída a Marcelo Odebrecht,
de fazer revelações sobre caixa 2 para a campanha de Dilma Rousseff em 2014.
Mas se for a OAS, ficarão de fora aquelas mensagens trocadas
por celular entre Léo Pinheiro e Eduardo Cunha, em que este reclama do
pagamento de R$ 5 milhões a Michel Temer sem descontar a parte dos “outros”.
Estes são exemplos óbvios, a partir do já conhecido ou posto em circulação, mas
é cartesiana a dedução de que alguns vão se dar bem se uma das delações for
dispensada.
A força-tarefa teria apresentado, segundo os advogados, dois
motivos para aceitar apenas um dos acordos em negociação. Primeiro, o fato de
as duas empresas terem atuado em consórcio em várias obras contratadas pela
Petrobras. Por isso, dariam informações redundantes sobre tais obras
consorciadas. Mas isso, longe de prejudicar, só favoreceria as investigações,
tirando qualquer dúvida sobre a veracidade do que foi informado.
O segundo motivo decorreria do fato de que, sendo elas, as
maiores, estão sendo as últimas a negociar a colaboração premiada. Seria uma
espécie de castigo por isso, ainda que resulte na impunidade de terceiros? Os
procuradores disseram aos advogados que pelo menos uma das duas grandes
empreiteiras terá que pagar pelos crimes descobertos pela Lava Jato, envolvendo
políticos de diversos partidos. Estranho este discurso, pois nós, da praia,
achávamos que todas iriam pagar. Tanto com as condenações de seus donos e
executivos como com o pagamento de multas. As delações, até onde se sabe,
atenuam mas não extinguem punições.
Este é o ponto. A informação de que uma das grandes não fará
delação solta uma pulga de bom tamanho que já começa a incomodar até os
entusiastas da Lava Jato. Por mais que tenham atuado juntas, OAS e Odebrecht
são pessoas jurídicas distintas, que fizeram também acordos ilícitos separados
com agentes políticos e partidárias. Quem ganharia com a exclusão de uma ou de
outra? É pouco compreensível que, para castigar uma das empreiteiras, a Lava
Jato prefira não saber o que ela fez, e com quem fez, fixando-se apenas na que
será delatora. Depois dos vazamentos seletivos, estaríamos chegando agora às
delações seletivas?
Uma decorrência da decisão de rejeitar uma das delações foi
uma competição entre as duas para vazar, pela mídia, as mais bombásticas
revelações que fariam, buscando cada qual, com isso, tornar-se a escolhida dos
procuradores. E com isso, os candidatos a delatores podem estar dando tratos à
imaginação, indo além do acontecido para tornarem-se “atraentes”.
A pulga está solta.
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