sábado, 4 de junho de 2016

Movimentos veem protestos em alta e preparam ato nacional no dia 10



Para Roberto Amaral, Guilherme Boulos e Raimundo Bonfim, das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, ataques a direitos desencadearam insatisfação social e atos diários por todo o país

Movimentos populares e as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo organizam uma série de manifestações, atos e intervenções para ocorrer antes de 10 de junho. Nessa data, programam um ato unificado nacional, liderado pelas duas frentes, contra o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff.

Coordenador da Frente Brasil Popular, o ex-integrante do PSB Roberto Amaral diz que o movimento de “todas as frentes” pretende estabelecer um cronograma de inúmeras ações, com destaque para o dia 10, e deve chegar ao auge em agosto, quando deve acontecer o julgamento final de Dilma no Senado.

Segundo ele, os áudios vazados de conversas dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e do ex-presidente José Sarney, além das ações do próprio governo interino de Michel Temer, estão alimentando o crescimento das mobilizações. A opinião é partilhada pelo coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo sem Medo, Guilherme Boulos, e pelo coordenador estadual em São Paulo da Central dos Movimentos Populares (CMP) e um dos coordenadores da FBP, Raimundo Bonfim.

“O terreno é mais fértil do que nós da Frente Brasil Popular supúnhamos. O governo interino, com sua inabilidade, está ajudando muito. Hoje temos consciência de que muitos dos que saíram às ruas pedindo o golpe, hoje não sairiam. E muitos dos que não saíram em defesa do mandato da Dilma, hoje estão saindo pedindo a saída de Temer”, diz Roberto Amaral.

Boulos vê perspectivas de manifestações cada vez maiores. “Há uma insatisfação crescente, até porque, mesmo pessoas que já foram à rua contra Dilma não foram pedindo o Temer. E com o ataque brutal que esse governo interino e ilegítimo começa a praticar contra os direitos sociais, isso seguramente vai aumentar as mobilizações”, prevê.

Para o dirigente do MTST, a principal discussão não é se o Senado vai ou não reverter o impeachment. “Não acreditamos, francamente, no carpete do Senado como palco para a solução. Achamos que a chance de reverter o golpe em curso é mobilização de rua”, defende. "No grande ato unificado no dia 10 de junho da Frente Brasil Popular e Frente Povo sem Medo, a gente espera que as várias lutas possam confluir, colocando centenas de milhares de pessoas nas ruas."

Para Roberto Amaral, a divulgação dos áudios está claramente conscientizando a sociedade. “Nós sempre dissemos que a cassação de Dilma era uma farsa. Ela não estava sendo julgada pelo seu governo nem pelas pedaladas que ela nunca cometeu. Tratava-se pura e simplesmente de afastá-la e ficou claro, nas conversas do Sarney, do Jucá e do Renan, como isso foi articulado. Essas declarações, soltadas a conta gotas, são apenas a ponta de um iceberg. A opinião pública vai aos poucos tomando consciência da farsa”, afirma.

Raimundo Bonfim cita a eliminação de programas como Minha Casa, Minha Vida, a ameaça ao SUS, a desvinculação de recursos em saúde e educação como graves ameaças. “A massa de trabalhadores está muito preocupada; a sociedade saiu às ruas com um discurso de combate à corrupção e agora vê que o governo é uma quadrilha.” Ele lembra ainda que o movimento sindical discute a possibilidade de parar algumas categorias.

A Federação Única dos Petroleiros informou em nota que, “diante dos ataques contra a Petrobras, o pré-sal e os direitos e conquistas da classe trabalhadora, que estão sendo desmontados pelos golpistas, a FUP e seus sindicatos indicam paralisação de 24 horas no dia 10 de junho”.
Movimentos espontâneos

“Estão crescendo também as manifestações espontâneas em atos, shows e todas as atividades, tudo num crescendo, com vistas ao próximo dia 10”, observa Bonfim. Ele, Amaral e Boulos destacam ainda a espontaneidade de ações, protestos e atos políticos como um aspecto que mostra a tendência de crescimento das mobilizações.

Para Amaral, a mídia está escondendo a importância das manifestações contra o governo Temer e o impeachment, e também oculta o caráter espontâneo de algumas delas, como as que foram vistas na Parada LGBT, ontem (29), em São Paulo. “A grande mídia praticamente não registrou o significado das manifestações em São Paulo no domingo. A Folha colocou a informação numa página do segundo caderno (Cotidiano).” Cerca de 3 milhões de pessoas passaram pelo evento, segundo os organizadores, e muitos deles protestaram.

Para Boulos, essa espontaneidade, além dos atos agendados, tende a crescer. “As pessoas estão percebendo que seus direitos básicos estão sendo atacados. Quando entra um governo sem voto nenhum a aplicando um programa que não foi eleito por ninguém, isso certamente vai levar as pessoas a reagir. As mulheres, o povo da cultura, os sem-teto, em relação aos cortes do Minha Casa Minha Vida, entre outros, têm feito muitas mobilizações.”

Ações ainda não confirmadas ou deliberadamente não divulgadas devem proporcionar um aumento de mobilizações. “Uma parte do calendário de mobilizações é público e está sendo divulgada. Outra parte não, porque são ações de outra natureza, de impacto. Mas nas próximas semanas haverá ações importantes. Eu diria nos próximos dias já”, garante Boulos.

Entre elas, protestos dos sem-teto contra a suspensão do Minha Casa Minha Vida. “Vão pipocar várias ações pelo país, já agendadas. Mas não vai haver divulgação prévia. Haverá ações como essas e outras iniciativas”, promete.

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