sexta-feira, 23 de julho de 2010

MÊS DE JULHO: A FÉ, A FESTA E A EXCLUSÃO





É mês de julho e como diz uma canção popular: a festa começou, é a festa de Sant’Ana, nã, nã, nã, nã, etc....


No entanto é oportuno perguntar para quem a festa chegou.


É inegável que o caráter religioso do mês de julho em Caicó sempre foi e continua sendo muito forte. Procissões, novenas, devoção uni a todos – caicoenses e visitantes – em torno de um sentimento de fraternidade e espiritualidade surpreendente.


Na parte religiosa, portanto, todos se irmanam e compartilham de um sentimento comunal de fé e devoção a Nossa Senhora Sant’Ana. Mas e na parte social da festa? Estamos também em condições de igualdade nesse aspecto?


O que temos constatado é que os custos financeiros da programação social da festa de Sant’Ana tem sido um termômetro eficaz para avaliarmos o nível da desigualdade social presente em nossa cidade no que tange o acesso ao lazer e participação nos eventos festivos.


A realidade é que o nosso grande evento sócio religioso é um privilegio das elites econômicas locais e de outros cantos do país. Acima de tudo o que temos é um evento comercial, um produto a ser vendido e que custa caro aos cofres públicos – propagandas na mídia, Mensagens em outdoor, infra estrutura – sendo, portanto, comercializado como qualquer produto nas “vitrines” do turismo estadual.


O problema é que os custos de tudo isso não é repassado apenas para quem pode pagar. Mas também para os filhos de famílias pobres, pessoas que quando muito tem é um salário mínimo, gente que tem encontrado cada vez mais dificuldade em participar da Festa de Santana.


Nessa época os alugueis de casa, os produtos de supermercado, os restaurantes, os bares, as festas de clubes, em fim, tudo o que possamos imaginar fica mais caro. A Ilha de Santana, que deveria ser um local responsável por oportunizar uma maior acessibilidade a lazer, torna-se nitidamente no lugar da exclusão.



As crianças, os adolescestes, os jovens e os idosos das camadas mais humildes tem o poder de participação reduzido diante do alto custo dos parques de diversão, das bebidas, dos sanduíches, do espetinho, da pizza e outros produtos vendidos no espaço da Ilha de Santana que sofrem um reajuste exorbitante de preços .


O que mais me deixa indignado é saber da existência de discursos forjado pelas elites, e que tem conseguido se disseminar no cerne das camadas populares, que atestam a legitimidade da exclusão do povo da parte social da festa de Santana. Há quem diga que caicoenses participam da Festa de Santana de atrevidos, que este evento é para, principalmente, os visitante mais favorecidos economicamente, que nós temos é que trabalhar para servir aos que chagam na nossa cidade.


Porem, o que os reprodutores desse discurso esquecem é que a Festa de Santana é produto do esforço de homens e mulheres de Caicó. A estrutura da festa, as bandas contratadas, as estradas remendadas, todo esse custo também já é pago por homes e mulheres de nossa cidade através dos vários impostos que pagamos. É justo que paguemos duas vezes?


É preciso por um basta nessa excludente realidade do mês de julho em Caicó. Nossas autoridades, em especial aquelas que são representantes eleitos pelo voto do povo de nossa cidade, precisam criar alternativas para proteger a nossa população dessas injustiças.


A festa de Santana precisa deixar de ser apenas uma mercadoria e torna-se, tanto no aspecto religioso como no social, um fenômeno que proporcione a fraternidade, a comunhão de todos em torno de tudo o que Nossa Senhora Santana representa para os cristãos católicos.


É preciso ter cuidado e não aceitar de bom grado todos os discursos criados pelas elites economicamente mais poderosas. Nós caicoenses temos sim o direito de participar da Festa de Santana. Não deixem de participar. Se a bebida ta cara na Ilha de Santana compre em outro local mais barato e leve para aquele espaço; se o lanche ta caro, leve sua de casa e vá com sua família fazer um Piquenique.


Não devemos dar o prazer da nossa ausência aqueles que a desejam. Se nos acham atrevidos por querermos participar da festa que criamos sejamos mais ousados ainda, vamos pintar o logotipo da Festa de Santana com o rosto do povo de Caicó.