terça-feira, 26 de junho de 2018

Aposentadoria especial é direito para quem trabalha exposto a agentes nocivos


Entre os agentes nocivos, estão eletricidade e ruídos - Créditos: ASCOM CELPE

O Regime Geral da Previdência Social assegura o benefício da Aposentadoria Especial a trabalhadores e trabalhadoras que tenham trabalhado expostos a agentes nocivos previstos em lei, como ruído e eletricidade. Essa aposentadoria pode ser concedida a quem tenha trabalhado por 15, 20 e 25 anos, de acordo com o tipo de agente nocivo a que é exposto o trabalhador: quanto mais prejudicial for o agente nocivo, menos tempo de trabalho é exigido para a concessão do benefício.

É interessante mencionar que mesmo que o trabalhador não tenha completado todo o tempo exigido para a Aposentadoria Especial (15, 20 e 25 anos), poderá utilizar o período de efetivo labor em contato com os agentes nocivos e convertê-lo para o cálculo de outros benefícios de aposentadoria, como a Aposentadoria por Idade e a Aposentadoria por Tempo de Contribuição, em que a conversão desse tempo poderá ajudar a diminuir o efeito do Fator Previdenciário e, assim, aumentar o valor final da aposentadoria.

Famílias brasileiras veem o risco de voltar ao mapa da fome da ONU


Joana acha alface no meio do monte de legumes trazidos na carroceria do caminhão por Onofre - Créditos: Nilmar Lage

O Brasil está na iminência de um vergonhoso retorno ao mapa da fome da ONU (Organização das Nações Unidas), de onde tinha saído em 2014. Com a entrada do governo golpista de Michel Temer, a partir de 2016, os investimentos sociais deixaram de ser prioridade e o corte em programas como o Bolsa Família ou o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) afetou diretamente famílias como a da mineira Maria Joana.

Joana tem 64 anos e há 17 mora às margens da BR 458, no entorno do colar metropolitano do Vale do Aço (MG). Natural de Bom Jesus do Galho (MG), viúva do primeiro marido e deixada pelo segundo, é ela quem gerencia o pequeno barraco onde mora com seu filho de 25 anos e o neto Claiton de 12 anos. Três pessoas e a única renda fixa vem do benefício de R$ 171 do Bolsa Família.

“Com todo o peso do mundo em suas costas”, Joana é de riso fácil. Cheguei cedo e só ela estava acordada e ativa. Tinha feito café, buscado um pouco de água na cisterna e cuidava da criação. Muito curioso, Claiton levantou com a minha chegada, veio sem escovar os dentes mesmo e me ofereceu uma mexerica. Arredio, o filho de Joana não me olhou nos olhos, não cumprimentou e eu o deixei a vontade na sua particularidade.

Atenciosa, Joana começa a compartilhar sua história de vida. Fala com carinho dos tapetes que costura, conta com orgulho a sua luta e da decisão de tentar melhores condições ao ocupar um pedacinho de terra para subsistência. Isso porque com o rendimento não conseguia mais pagar o aluguel, fazer compras, pagar passagens, comprar roupas.

Mineiro tem fama de desconfiado. O filho de Joana é a expressão viva desse esterótipo. “Quando saí da cadeia, fiquei dois anos e meio longe do crime. Um dia minha mãe passou mal, eu não tinha dinheiro para um mototaxi para levá-la ao hospital”. Foi o chamado para voltar ao tráfico e tentar uma renda a mais na casa.

Joana não aprova as escolhas do filho, mas acolhe e sabe dos riscos e das consequências deste caminho. Para ele, a falta de oportunidades foram o levando para esse caminho. “A televisão mostra altos financiamentos e eu moro em um lugar que não tem nem reboco. Eles me ilude (sic) a ter uma coisa que não posso e depois me oprime (sic) porque eu corro atrás daquilo”. Ele acha que as consequências tem que ser cobradas, “mas nem todo mundo faz porque quer. As vezes o  filho de quem julga tá bem, mas porque teve uma escola.”

No final dos anos 80, a década perdida, Jorge Furtado apresentou famílias que sobreviviam do resto de feira no documentário “Ilha das Flores”. Em 2018, com um país dominado pelo agronegócio e pela ditadura da estética, o desperdício atinge até mesmo frutas, legumes e hortaliças “feias”, que por não estarem vistosas, são descartadas ao lixo. Foi nesse lixo que Joana achou alface no meio do monte de legumes trazidos na carroceria do caminhão por Onofre. Ela sorriu timidamente e, de maneira assertiva, disse que só precisava lavar e colocar um pouco de cloro para limpar. “Pra gente sobreviver, a gente tem que ter coragem”.

A família de Joana busca estar um degrau acima da miséria. Falta fair play com o povo brasileiro.



Diante de Manuela, o Roda Viva transformou-se em uma tempestade de estupidez e machismo


Por Renato Bazan

O jornalismo brasileiro sofreu um apagão na noite desta segunda-feira (25). Não há outra forma de definir a tempestade de estupidez e machismo em que se transformou o Roda Viva sob o comando de Ricardo Lessa.
O que deveria ser ser uma sabatina com a pré-candidata à presidência Manuela D’Ávila, do PCdoB, tornou-se a vitrine da malícia reacionária que domina a nossa imprensa. Por uma hora, Manuela se viu cercada de jornalistas menos interessados em seu projeto e mais em vê-la tropeçar nas perguntas-pegadinha normalmente direcionadas à esquerda brasileira. Não a levaram a sério. Interromperam-na centenas de vezes.
Foi o equivalente midiático de um fuzilamento, ao vivo e em cores. No pelotão, estavam o próprio Lessa (mediador), Vera Magalhães (Estadão/Jovem Pan), Letícia Casado (Folha), João Gabriel de Lima (Exame), Joel Pinheiro da Fonseca (não-jornalista do Insper), e Frederico d’Avila (diretor da Sociedade Rural Brasileira) – uma composição questionável, no melhor dos casos, por representar somente tons do conservadorismo nacional.
Mas talvez, sob o comando de um profissional competente, esse consórcio de oponentes apresentasse à Manuela a chance de confrontar os preconceitos que a impedem de crescer como candidata. Numa realidade em que o mediador do Roda Viva fosse Heródoto Barbeiro ou Paulo Markun, as perguntas teriam chance de serem respondidas, e não seriam transformadas em armadilhas para render manchetes nas redes sociais.
A maior vítima da hostilidade desta noite não foi Manuela D’Ávila, mas o próprio Roda Viva, e com ele o departamento jornalístico da TV Cultura.
Para que serve uma entrevista na qual o único objetivo é desestabilizar o entrevistado? Estariam transmitindo de algum porão do DOPS? O grau de desleixo foi tamanho que o próprio mediador pôs-se a rir sarcasticamente de sua convidada quando desistiu de provocá-la. Repetiu 5 vezes a mesma pergunta: “Você considera Lula inocente?”. Em todas ouviu a mesma coisa, e não a deixou terminar.
Essas foram duas tendências inescapáveis, inclusive: a obsessão por Lula, e o silenciamento sistemático de Manuela no meio de suas falas. O terceiro bloco, pior de todos eles, foi quase todo dedicado ao ex-presidente, e uniu os 6 da bancada em um coro de acusações sem o menor auto-controle. A determinada altura, Manuela disparou atônita: “Vocês gostam de falar mais do que eu”. Por isso, foi chamada de “advogada do Lula”. Foi o momento mais vulgar. A entrevista adquiriu ares de Inquisição, como se quisessem extrair dela a confissão que não conseguiram do líder do PT. Como se quisessem transferir a ela o peso de suas acusações.
Tentaram também colocar palavras em sua boca. A ela foi perguntado nada menos que três vezes se desistiria de sua candidatura, apesar de negar com firmeza. Machismo exemplar, sob um fino véu investigativo. Criaram paralelos impossíveis entre sua candidatura e os governos de Stalin e Mussolini, ditadores mortos há mais de 60 anos, ancorados em bordões de WhatsApp que deixariam qualquer tio do pavê orgulhoso. Em dois diferentes momentos, Frederico D’Ávila, que participa da campanha de Jair Bolsonaro, tomou minutos para falar da “vida miserável na União Soviética”, e finalmente desaguou na mãe de todas as falácias: “o fascismo é de esquerda”.
Nenhum membro da bancada foi melhor. Envergonharam o ofício do jornalismo ao basearem suas perguntas em leituras ignorantes e fake news encontradas em redes sociais. O menino Joel, desesperado, acusou-a de criar “discurso de ódio” por criticar a nave-mãe de todos os discursos de ódio, o Movimento Brasil Livre. Minutos antes, havia acusado Manuela de mentir sobre estatísticas que ele mesmo desconhecia. Em outro momento, Frederico tentou desandar uma resposta sobre feminismo para um bate-boca sobre castração química. Vera Magalhães encarnou a ignorância de seus leitores depois de pedir colaborações no Twitter.
Nenhum jornalista é obrigado a aderir a uma ou outra ideologia, mas espera-se do mais medíocre que saiba se portar diante de uma câmera. Que não precise perguntar: “É machista elogiar sua beleza quando estamos discutindo política?”, como fez Ricardo Lessa. O nível foi este: abismal.
Manuela D’Ávila sai gigante do programa, após delimitar seu espaço em meio a um inferno de desonestidade intelectual. Já sobre a TV Cultura, pode-se dizer o contrário. Se os próprios jornalistas perderam a capacidade de pensar com coerência, que esperança temos de um debate civilizado até outubro? Este Roda Viva foi o retrato da ruína de nossa profissão.

Crise faz indústria derreter; setor perde 1,3 milhão de empregos entre 2013 e 2016

Os dados são da Pesquisa Industrial Anual Empresa (PIA Empresa), divulgada na última quinta (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a pesquisa, a produção industrial despencou 70% em apenas dois anos e levou o setor ao menor número de empregados desde 2007.
No fim de 2016, o setor empregava 7,7 milhões de pessoas, 1,3 milhão a menos que o pico atingido em 2013, quando mais de 9 milhões trabalhavam nas indústrias do país.
No período, foram fechadas 2.085 indústrias brasileiras, com a demissão de 400.836 trabalhadores. As demissões, segundo o estudo, foram generalizadas, já que afetaram 26 dos 29 setores avaliados.

Recessão na Construção Civil

O estudo ainda aponta que, em números absolutos, a atividade industrial que mais fechou vagas foi a fabricação de produtos minerais não metálicos. A perda de 56,5 mil vagas foi influenciada pela queda da demanda do setor de construção civil.
O impacto na indústria naval também avançou. Em números relativos, o setor teve uma queda de 49% do pessoal ocupado em apenas dois anos. O setor tinha 61,5 mil vagas em 2014 e fechou 2016 com 31,5 mil. O estado mais afetado foi o Rio de Janeiro, com 23 mil vagas foram fechadas, e o contingente de 31 mil trabalhadores caiu para apenas 8 mil.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

CTB convoca vigília em defesa dos sindicatos em frente ao STF


A CTB convoca mobilização nacional no dia 28 de junho, próxima quinta-feira, quando ocorrerá no Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) contra o fim da cobrança da contribuição sindical, instituído pela reforma trabalhista.
A mudança vem sendo questionada na Justiça, em todas as instâncias, desde a entrada em vigor da reforma trabalhista e sua inconstitucionalidade é advogada pelas centrais sindicais, que vêm na ofensiva da lei uma tentativa de fragilizar o movimento sindical.
O ministro Luiz Edson Fachin, em despacho divulgado no último dia 30, em resposta à ADI 5794, defendeu a obrigatoridedade da contribuição sindical, e seu posicionamento é importante já que ele é o o relator de todas as 15 ações diretas de inconstitucionalidade contra a contribuição facultativa. 
O ministro apontou em seu texto que a suspensão do imposto teria de ser precedida de um amplo debate sobre o sistema de representação dos trabalhadores e trabalhadoras e que isto não ocorreu. Portanto, diz ele, o fim do chamado "imposto sindical" coloca em risco direitos garantidos pela Constituição Federal. 
Lei abaixo a convocação da CTB nacional: 
28 de junho tem luta
Concentração a partir das 10h, na porta do STF, em Brasília-DF
Para o ministro Luiz Edson Fachin, o fim do imposto sindical coloca em risco direitos garantidos pela Constituição Federal e impõe sérias consequências para a garantia da sobrevivência do movimento sindical brasileiro.
Está na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF), Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 5.794 que questiona o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. A ADI 5.794, proposta pela CONTTMAF, questiona a mudança na contribuição.
A Lei 13.647/2017 da reforma trabalhista, não bastasse alterar mais de 100 artigos da CLT, quer sepultar as entidades sindicais.
A manifestação do ministro Fachin atiçou a fúria da mídia golpista. De posse dos seus editoriais tentam intimidar os ministros da suprema corte. Seguem apostando todas as fichas para liquidar os direitos e conquistas da classe trabalhadora e por consequência as suas entidades de classe.
É por isso que a VIGÍLIA do dia 28/06, às 10h, na porta do STF, é muito importante. Mais ainda, ela reforça a necessidade de seguirmos unidos na luta defesa dos Sindicatos.
Sindicato Forte! A sua melhor proteção!
Vamos à luta!
Adilson Araújo
CTB Nacional


terça-feira, 19 de junho de 2018

Centrais vão ao Congresso na quarta (20) entregar agenda de diretrizes da classe trabalhadora




Representantes do Fórum das Centrais (CTB, CUT, CSB, Força Sindical, NCST, Intersindical e UGT) vão a Brasília na quarta-feira (20) para lançar a Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora  para o Brasil.


O documento reúne 22 diretrizes para recolocar o país na trajetória do crescimento, entre elas a revogação da reforma trabalhista, da lei da terceirização e da Emenda Constitucional 95, que congelou os gastos públicos por 20 anos.

O secretário-geral da CTB, Wagner Gomes, representa a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ao lado da diretora nacional da CTB e secretária-geral da Contag, Thaisa Daiane Silva, e do secretário do serviço público e dos trabalhadores públicos, João Paulo Ribeiro.

"Vamos entregar a agenda e criticar a atuação do congresso, que vem compactuando com as políticas do governo Temer e aprovando políticas que só impõem perdas para a classe trabalhadora", diz Gomes.

Os sindicalistas se reunirão às 11h com o presidente do Senado, Eunicio Oliveira (MDB-CE), e às 15h com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).





quinta-feira, 14 de junho de 2018

Como eu participei, como soldado, do plano delirante de invasão do Uruguai pela ditadura brasileira.



Por Carlos Fernando Piske



Janeiro de 1971. Como todos os jovens, aos 18 anos ingressei no Exército para cumprir o serviço militar obrigatório. Mesmo que o Exército me dispensasse, meu pai daria um jeito para que eu servisse.

Militar de carreira, expedicionário da FEB e veterano da Segunda Grande Guerra no teatro de operações da Itália, entrou para a reserva após ter atingido o posto de major e sonhava que seus três filhos homens seguissem a mesma carreira.

Mas esse sonho foi por terra juntamente com meus cabelos longos de jovem idealista e já com um anarquismo mal disfarçado nas atitudes. Nessa hora ficou claro para mim que minha trajetória, ali, seria conturbada.

Com o passar do tempo, comecei a perceber a inutilidade, falta de eficiência, de objetividade de nossos treinamentos e pouquíssima coisa que serviria para sobreviver em combate.

Nada de técnicas de combate e estratégias. Parece que tudo se resumia em levar o soldado aos limites de sua força física, como se estivessem nos preparando para uma competição. Tiros reais foram poucos pela escassez de munição devido ao orçamento parco.

Talvez isso explique o rendimento das tropas no combate à guerrilha do Araguaia, em que foram usados milhares de soldados durante quase cinco anos para destruir um foco de uma centena de guerrilheiros mal armados.

Manobras de guerra não estavam previstas naquele ano. Era uma grande operação que envolvia até 5 mil homens, centenas de viaturas, tanques, helicópteros, aviões, muita munição e centenas de milhares de litros de combustível. Essa é a razão pela qual só são realizadas de quatro em quatro anos.

Entretanto, no início de novembro, ouvi que um grupamento de nosso quartel iria se juntar com tropas do Sul para uma grande manobra de guerra.

Procurei então o tenente comandante da companhia e me apresentei como voluntário, já de olho na possibilidade de sair na segunda baixa no final de ano. Mas os convocados eram somente do grupo de enfermagem.

Explico. Quem participa de manobra de guerra, sai no máximo na segunda baixa. Eu certamente estaria na última em fevereiro por questões disciplinares. Não fui um bom exemplo de soldado e dei tanto incômodo que meu pai abandonou a ideia de ter os filhos seguindo sua carreira.

Mas, no dia de embarcarem, um dos soldados não se apresentou. Imediatamente fui chamado e recebi ordens para preparar meu material de campanha, pois iria junto com eles.

Fomos de Joinville para Curitiba e paramos algumas horas no REC MEC, Regimento de Cavalaria Mecanizada. Confusão, desencontros. Dali nos dirigimos para um quartel no centro de que não recordo o nome.

A cada parada, engrossava o comboio. Partimos em direção a Guarapuava (PR) onde jantamos e pernoitamos na Companhia de Cavalaria, que faria o papel de inimigo no treinamento.

De manhã cedo, saímos ao destino final, Campo Erê, uma cidadezinha que tinha na época cerca de 3 mil habitantes, situada no oeste de Santa Catarina.

Acabei assumindo a função de operador de central telefônica, aquela cheia de plaquinhas, furos e plugs que funcionava com uma manivela para produzir eletricidade.

Mais tarde fui saber que aquelas eram as famosas “macaquinhas” utilizadas largamente na tortura de presos políticos.


O cônsul brasileiro Aloysio Dias Gomide, sequestrado pelos tupamaros
Terminado o exercício militar de dez dias, retornamos para Joinville. Após uma noite de sono, dormindo de novo numa cama, de manhã cedo recebemos ordens de voltar a Curitiba com todo nosso material de guerra. Assim, sem explicações, sem ter tido contato com a família.

Lá ficamos aquartelados no Núcleo Preparador de Oficiais da Reserva. No pátio, caminhões e outras viaturas, carregadas de armamento, munições e material de campanha. A ordem era não sair do quartel. Mal permitiam atravessar a rua para comprar cigarros.

Sabíamos que algo de grave estava acontecendo. Estava no ar. O comandante de nosso grupo nos segredou que ouvira falar de eleições no Uruguai e que os tupamaros, grupo guerrilheiro, iriam participar das eleições junto com a Frente Ampla.

Caso perdessem, iriam fugir para o Brasil e nós iríamos dar apoio à 15ª Divisão de Infantaria, que já se encontrava na fronteira com o Uruguai, para expulsá-los. Era o que nos foi passado.

Depois de cerca de um mês e meio de prontidão, retornamos finalmente para Joinville. 

Saímos todos em baixa especial dia 31 de dezembro de 1971, ao meio dia.

Muitos anos depois, lendo o Livro “Aventura, Corrupção e Terrorismo” do Coronel Dickson M. Grael, é que fui saber da verdade.

Já havia um resfriamento nas relações Brasil e Uruguai por causa do fracasso nas negociações pela libertação do cônsul brasileiro Aloysio Gomide, sequestrado pelos tupamaros em 1970.

O diplomata só seria libertado após sete meses de cativeiro, mediante pagamento de resgate pela família. Também havia o fato de João Goulart e Brizola estarem exilados no país vizinho. O plano de invasão receberia o nome de “Plano Trinta Horas”, o tempo que o Brasil teria para invadir o Uruguai, depor o presidente eleito, colocar outro em seu lugar juntamente com um grupo de militares golpistas e sair fora antes que governos e organizações internacionais se dessem conta.

Duas semanas antes dos preparativos para a invasão, houve um encontro entre Médici e Nixon que reforça a informação da ingerência também dos EUA. Recentemente mais de quinhentos documentos de Estado Americano, CIA e governo brasileiro, foram desclassificados por Obama após encontro com Dilma.

Eles tratam exaustivamente da participação do Brasil na fraude que pôs no governo Juan Bordaberry, que vence por pouco mais de 12.000 votos.

Assume em 1972 e dá um golpe em 1973. Perdeu a Frente Ampla que abrigava os tupamaros, Partido Comunista Uruguaio, Partido Socialista, militares de esquerda. Seu candidato foi Liber Seregni.

Vale salientar que a esquerda estava fortemente armada para rechaçar os invasores. Particularmente, conforme já falei, não creio que nossas forças armadas conseguiriam cumprir o objetivo em “trinta horas”.

É claro que temos combatentes de elite, como é o caso do Batalhão de Selva, um dos mais bem treinados e letais do planeta. Mas não é regra, é exceção. Vale aquela máxima que diz que nosso Exército é pequeno demais para a guerra e grande demais para a paz.

Mas, felizmente para todos, esse delírio de interferir na soberania e autodeterminação do Uruguai, ficou restrito à nossa cooperação na fraude eleitoral.

E foi assim que eu quase fui pra guerra.



Raízes na periferia: um raio-x da origem social dos convocados para a Copa 2018

Meio-campista Willian cresceu jogando futebol na rua Conde de Sarzedas, no bairro Vila Albertina, periferia do ABC paulista
POR DANIEL GIOVANAZ E POLIANA DALLABRIDA
Pés descalços, campinho de terra batida. A periferia ainda é o maior celeiro de talentos do futebol brasileiro. É o que demonstra um levantamento feito pela reportagem do Brasil de Fato, baseado em imagens de arquivo, sínteses de entrevistas e relatos dos jogadores e familiares, concedidos ao longo da carreira.
A maioria dos jogadores convocados pelo técnico Tite para a Copa do Mundo 2018 vêm da região metropolitana de grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste, de municípios interioranos distantes da capital, sem infraestrutura adequada, ou de bairros com altos índices de criminalidade e baixos indicadores sociais.
São, de modo geral, filhos de trabalhadores braçais, mal remunerados, com anos de escolaridade inferiores à média brasileira. Só não seguiram o mesmo caminho dos pais devido ao esporte.
Mesmo no mundo do futebol, eles são exceção. Cerca de 82% dos jogadores profissionais brasileiros ganham menos de R$ 1.000 por mês.
Dos 23 convocados para a Copa, 19 jogam em grandes clubes da Europa. Todos recebem mais de cem salários mínimos, entre remuneração fixa, direitos de imagem e patrocínios. Embora acentuem o problema da concentração de renda no país, hoje eles têm condições de ajudar a família e os amigos da “quebrada” – o que reforça o papel do futebol como ferramenta de mobilidade social nos países em desenvolvimento.
Conheça a origem e os primeiros passos de cada um deles:
GOLEIROS
Alisson (Novo Hamburgo-RS, 2 de outubro de 1992)
Cresceu em um apartamento simples no loteamento Mundo Novo, um dos maiores conjuntos de habitacionais do Brasil, com 1,2 mil casas – que sequer tinha posto de saúde até 2012. O Mundo Novo fica no bairro Canudos, que tem o segundo maior índice de criminalidade do município.
Para treinar nas categorias de base do Internacional, Alisson precisava pegar carona em uma van na rodovia BR-116, que liga Novo Hamburgo a Porto Alegre. Descendente de uma extensa linhagem de goleiros, que começou há quatro gerações, ele foi apenas o segundo a se profissionalizar e contribuir no orçamento familiar por meio do esporte. O primeiro foi o irmão mais velho, Muriel, que hoje atua no Belenenses, de Portugal.
Clubes: Internacional e Roma (Itália).
Cássio (Veranópolis-RS, 6 de junho de 1980)
O gigante de 1,95m cresceu em um casebre de madeira a 170 km de Porto Alegre.
Sobrinho do então massagista do Veranópolis Esporte Clube (VEC), Cássio assistia a todos os treinamentos do time e passava horas buscando as bolas que os jogadores chutavam para fora do campo. Gandula-mirim, aos seis anos, ele conheceu o técnico Tite, da Seleção Brasileira, que era treinador do VEC em 1993.
O primeiro trabalho remunerado, aos 14 anos, foi em um lava-jato.
Após fazer sucesso debaixo das traves, construiu uma casa moderna e confortável para a família ao lado daquela em que passou a infância.
Clubes: Grêmio, PSV (Holanda), Sparta Roterdã (Holanda) e Corinthians.
Ederson (Osasco-SP, 17 de agosto de 1993)
Primeiro jogador da história da Seleção a ser convocado para uma Copa sem nunca ter atuado profissionalmente no Brasil, Ederson foi criado na periferia de Osasco. O bairro Rochdale, de classe média baixa, era conhecido pelas enchentes e alagamentos.
Apaixonado por tatuagens, o garoto desenhava o corpo com caneta desde a infância. Hoje, são mais de 30 tatuagens – todas de verdade.
Ederson jogava bola na rua e, aos 10 anos, matriculou-se na escolinha do bairro. Teve 15 minutos para mostrar serviço aos olheiros do São Paulo, em meio a 150 garotos, e logo chamou a atenção.
Transferiu-se para Portugal antes de chegar à categoria profissional, e hoje vive em Manchester em uma mansão com a esposa, a filha, a sogra, um amigo de infância e um casal de amigos.
Clubes: Ribeirão (Portugal), Rio Ave (Portugal), Benfica (Portugal) e Manchester City (Inglaterra).
ZAGUEIROS
Marquinhos (São Paulo-SP, 14 de maio de 1994)
Cria do Centro de Formação e Treinamento de Atletas – Futebol SACI, que fica no bairro Imirim, Zona Norte de São Paulo, Marquinhos era o terceiro de cinco irmãos. Estreou como goleiro, mas já na infância mudou de posição dentro do campo.
Aos oito anos, o garoto da periferia paulistana chamou a atenção dos olheiros do Corinthians no “terrão” – campo de terra batida, esburacado, onde o clube fazia testes para crianças e adolescentes.
No bairro e na família onde cresceu, a bola parecia a única saída. O primo, Moreno, e o irmão, Luan, haviam sido revelados pela base do Corinthians. Mas Marquinhos foi quem mudou a vida da família com o futebol: Moreno está sem clube e Luan, que não engrenou como profissional, hoje administra a carreira do zagueiro da Seleção.
Clubes: Corinthians, Roma (Itália) e Paris Saint-Germain (França).
Miranda (Paranavaí-PR, 7 de setembro de 1984)
Formado na escolinha de futebol da Associação de Moradores do Jardim São Jorge, bairro de 25 mil habitantes na periferia de Paranavaí-PR, Miranda é o caçula de 12 filhos. Ele escolheu ser zagueiro em homenagem ao irmão mais velho, Vicente, que morreu carbonizado após acidente de trabalho em uma companhia de energia local. Era na zaga que o irmão gostava de jogar.
Miranda morava a poucos metros de um campinho, onde todos os dias jogava bola com os amigos. Foi revelado em torneios de várzea.
Clubes: Coritiba, Sochaux (França), São Paulo, Atlético de Madrid (Espanha) e Internazionale (Itália).
Pedro Geromel (São Paulo-SP, 21 de setembro de 1985)
O zagueiro-sensação do Grêmio viveu até a adolescência com a família em Vila Maria, bairro de classe média da Zona Norte da capital paulista. Sem chances nos clubes de São Paulo, Geromel quase desistiu do futebol para trabalhar como bancário.
A origem social de Pedro Geromel é uma exceção entre os jogadores convocação para a Seleção. Ele é um dos únicos que cresceu em uma família de classe média alta – o pai tem uma empresa de embalagens plásticas na capital paulista. É fluente em inglês, alemão e espanhol.
Clubes: Chaves (Portugal), Vitória de Guimarães (Portugal), Colônia (Alemanha), Mallorca (Espanha), Grêmio.
Thiago Silva (Rio de Janeiro-RJ, 22 de setembro de 1984)
Criado no bairro Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, a 100 metros da entrada da favela. Era uma criança apaixonada por soltar pipa e jogar futebol, e convivia com tiroteios entre policiais e moradores da comunidade.
A mãe vivia com medo. Para brincar na rua, ele esperava que ela cochilasse, depois do almoço, e saía de fininho para se juntar aos amigos.
Como zagueiro, foi rejeitado nas “peneiras” de cinco clubes do Rio de Janeiro. A primeira oportunidade como profissional veio em Alvorada-RS, a 1,5 mil km de casa.
Em 2005, na Rússia, teve um diagnóstico de tuberculose, foi hospitalizado em condições precárias e quase perdeu parte do pulmão.
Clubes: RS Futebol, Juventude, Porto B (Portugal), Dínamo Moscou (Rússia), Fluminense, Milan (Itália) e Paris Saint-Germain (França)
LATERAIS
Danilo (Bicas-MG, 15 de julho de 1991)
O pai de Danilo, caminhoneiro, conseguiu que o filho tivesse oportunidade de treinar em uma escolinha de futebol de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. De origem humilde, o lateral saía da escola, às vezes só com uma bolacha no estômago, e seguia para o treino, a 40 km de casa, no município de Bicas.
Depois de chamar atenção de grande clubes mineiros, Danilo foi contratado pelo Santos, marcou o gol do título da Libertadores da América em 2011 e, de lá, rumou para o futebol da Europa.
A família ainda vive em Bicas, e o jogador não esquece das dificuldades da infância. Durante as férias, Danilo sempre visita a escolinha de futebol onde começou a jogar, no bairro Novo Triunfo.
Quando postou uma foto no Instagram com um tênis de marca, um dos seus seguidores disse ter adorado o tênis, mas lamentou não ter condições de comprá-lo. Danilo se identificou: “Fala irmão! Tô ligado. Também sou de ‘quebrada’. Manda aí seu endereço e quanto você calça. Vou te mandar uns pisantes! Valeu”.
Clubes: América Mineiro, Santos, Porto (Portugal), Real Madrid (Espanha) e Manchester City (Inglaterra).
Fagner (São Paulo-SP, 11 de junho de 1989)
Descoberto em uma escolinha de futebol próximo ao Jardim Capelinha, um dos bairros mais violentos de São Paulo. Foi criado pelo pai e cresceu longe da mãe, depois de um divórcio traumático.
Aos seis anos, sofreu um acidente numa porta de vidro e quase teve o braço amputado, por um erro médico. O pai teve que vender o carro para pagar a cirurgia de correção. A primeira das muitas tatuagens que ele tem foi feita para esconder aquela cicatriz.
Fagner chegou ao Corinthians com nove anos. Pegava dois ônibus, um metrô e caminhava mais de uma hora até o Parque São Jorge para realizar o sonho de ser jogador de futebol.
Clubes: Corinthians, PSV (Holanda), Wolfsburg (Alemanha), Vasco e Corinthians.
Marcelo (Rio de Janeiro-RJ, 12 de maio de 1988)
Revelado na escolinha de futsal da colônia de férias do Exército, na Urca. Quando foi aprovado nas categorias de base do Fluminense, o avô o levava de carro para Xerém em um Fusca 1975, comprado no ano 2000 com dinheiro ganho no jogo do bicho.
No começo da carreira o dinheiro era contado e, às vezes, não dava sequer para tomar uma condução ou almoçar antes do treino.
Clubes: Fluminense e Real Madrid (Espanha).
Filipe Luís (Jaraguá do Sul-SC, 9 de agosto de 1985)
Cresceu na zona rural de Massaranduba, município de 14,6 mil habitantes do interior de Santa Catarina. Os passatempos preferidos do jogador na infância estavam ligados à terra: comer frutas nas árvores, pegar minhoca do chão, passear pelas plantações de arroz.
Começou a bater bola atrás da igreja da comunidade. Quando se mudou para Jaraguá do Sul, na adolescência, passeava de bicicleta de colégio em colégio para jogar futebol. Foi revelado em um torneio de futsal, aos 14 anos, e passou a integrar as categorias de base do Figueirense.
Morava debaixo da arquibancada do estádio Orlando Scarpelli, com outros 30 garotos.
Clubes: Figueirense, Ajax (Holanda), Real Madrid Castilla (Espanha), La Coruña (Espanha), Atlético de Madrid (Espanha), Chelsea (Inglaterra) e Atlético de Madrid (Espanha).
MEIO-CAMPISTAS
Paulinho (São Paulo-SP, 25 de julho de 1988)
Começou nos campos de várzea do Parque Novo Mundo, na região da Vila Maria, Zona Norte de São Paulo. Aos 12 anos, fazia parte da categoria de base da Portuguesa.
O padrasto, que Paulinho considera um pai, era quem o levava para assistir aos jogos de futebol.
Os pais se separam quando o jogador era ainda criança. Paulinho só foi encontrar o pai biológico novamente quando o Corinthians foi a Recife jogar contra o Náutico, em 2012.
Clubes: FC Vilnius (Lituânia), ŁKS Łódź (Polônia), Audax, Bragantino, Corinthians, Tottenham (Inglaterra), Guangzhou Evergrande (China) e Barcelona (Espanha).
Fernandinho (Londrina-PR, 4 de maio de 1985)
Passou a infância e adolescência entre duas cidades: Londrina e Ribeirão Preto. Fernandinho era o destaque do time de peladas da Rua do Roncador, no conjunto Lindoia, periferia do município paranaense. Ele também era o número 1 do campinho de terra batida no bairro Adão do Carmo Leonel, na zona Oeste de Ribeirão Preto.
Foi revelado em 1999, aos 13 anos, no PSTC – centro de treinamento especializado em categorias de base e formação de atletas profissionais de Londrina. Treinava no campo de futebol da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Até hoje, Fernandinho mantém contato com os amigos do Conjunto Lindoia.
Clubes: Atlético Paranaense, Shakhtar Donetsk (Ucrânia) e Manchester City (Inglaterra).
Renato Augusto (Rio de Janeiro-RJ, 8 de fevereiro de 1988)
Renato Augusto cresceu em três apartamentos diferentes na rua Ibituruna, a menos de 1 km do Maracanã. Via o estádio de segunda à sexta pela janela do ônibus 456, que pegava para ir à escola. Hoje, ele traz o Maracanã estampado em uma tatuagem no braço direito.
Assim como o zagueiro Pedro Geromel, Renato Augusto é um dos poucos convocados para a Copa oriundo de uma família de classe média.
Clubes: Flamengo, Bayer Leverkusen (Alemanha), Corinthians e Beijing Guoan (China).
Fred (Belo Horizonte-MG, 5 de março de 1993)
Cresceu no Jardim Europa, em Venda Nova, Belo Horizonte, jogando bola na rua, descalço. Na Copa de 2002, raspou o cabelo igual ao do ídolo Ronaldo, artilheiro da Seleção.
Foi aprovado em um teste no Atlético Mineiro aos dez anos, mas teve que abrir mão de jogar no time do coração porque não conseguiu um contrato que garantisse verba de transporte, moradia e alimentação.
Meses depois, foi levado a Porto Alegre em um projeto encabeçado pelo ex-jogador Assis, irmão de Ronaldinho Gaúcho, que lhe abriu as portas no Internacional.
Clubes: Internacional e Shakhtar Donetsk (Ucrânia).
Casemiro (São José dos Campos-SP, 23 de fevereiro de 1992)
Foi abandonado pelo pai aos três anos e passou necessidade durante toda a infância. Entre as lembranças mais vivas daquela época, está a imagem de uma vendedora de Yakult que passava em frente à casa dele todo final de tarde: Casemiro morria de vontade de tomar a bebida, mas a mãe não tinha dinheiro para comprar.
Aprovado em um teste no São Paulo, ele não tinha condições de ir e voltar de São José dos Campos à capital, e dependia da ajuda de amigos para passar a noite entre um e outro treinamento. Na mesma época, contraiu uma hepatite e ficou quase 90 dias sem treinar. Quase foi forçado a desistir do esporte.
Aos 14 anos, conseguiu uma vaga no alojamento do clube, driblou as dificuldades e hoje é considerado uma das maiores revelações da história do Tricolor.
Clubes: São Paulo, Real Madrid B (Espanha), Porto (Portugal) e Real Madrid (Espanha)
Willian (Ribeirão Pires-SP, 9 de agosto de 1988)
Cresceu jogando futebol na rua Conde de Sarzedas, no bairro Vila Albertina, no ABC paulista. Era conhecido de todos moradores e comerciantes da rua: volta e meia a bola entrava pela porta ou batia em uma janela.
Os primeiros treinos, aos cinco anos, foram na quadra de futsal do pequeno Ribeirão Pires FC.
A carreira deslanchou quando o pai, Severino da Silva, o levou para um teste na escolinha do ex-jogador Marcelinho Carioca. Era o primeiro passo para que Willian vestisse a camisa do Corinthians, time do coração de Seu Severino.
Clubes: Corinthians, Shakhtar Donetsk (Ucrânia), Anzhi (Rússia) e Chelsea (Inglaterra).
Philippe Coutinho (Rio de Janeiro-RJ, 12 de junho de 1992)
Cresceu em um condomínio no Rocha, Zona Norte do Rio. Quem primeiro identificou o talento dele para o futebol foi Dona Didi, avó de um amigo de infância.
Em casa, o dinheiro era contado, mas nunca faltou apoio da família: o pai, a mãe e os dois irmãos mais velhos suaram a camisa para que o menino se dedicasse desde cedo ao esporte.
Coutinho começou aos seis, na escolinha de futsal do Clube dos Sargentos do Rio de Janeiro. Em menos de um ano, foi aprovado no time de Mangueira e disputou o primeiro torneio estadual de futsal. Artilheiro da competição, chamou a atenção do Vasco, clube em que estreou como profissional.
Clubes: Vasco, Internazionale (Itália), Liverpool (Inglaterra) e Barcelona (Espanha).
Douglas Costa (Sapucaia do Sul-RS, 14 de setembro de 1990)
Estudou na escola municipal Hugo Gerdau, em Sapucaia do Sul, região metropolitana de Porto Alegre. Filho de um mecânico e uma dona de casa, foi revelado em caminhos de terra batida. Matriculou-se na escolinha de futebol da Prefeitura e chegou ao Grêmio aos 12 anos.
Nos primeiros meses, causou desconfiança por ser muito mais magro do que a maioria dos colegas. Só conseguiu se firmar nas categorias de base após um trabalho de fortalecimento muscular e nutricional: ganhou seis quilos em dois anos.
Clubes: Grêmio, Shakhtar Donetsk (Ucrânia), Bayern de Munique (Alemanha) e Juventus (Itália)
ATACANTES
Taison (Pelotas-RS, 12 de janeiro de 1988)
Ex-flanelinha, integrante de uma família de onze irmãos, foi o único menino de seu círculo social que conseguiu se estabelecer profissionalmente e ajudar a família. Ao menos dois de seus amigos de infância são hoje moradores de rua, em Pelotas.
O talento de Taison foi desenvolvido em ruas de areia e calçamento, nas periferias do município, e no pátio da Escola Estadual Nossa Senhora dos Navegantes. Descoberto pelo clube Osório, deixou o trabalho de manobrista, em frente a um supermercado, e logo encantou os olheiros do Internacional, clube que o revelou para o mundo.
Clubes: Internacional, Metalist Kharkiv (Ucrânia) e Shakhtar Donetsk (Ucrânia).
Neymar (Mogi das Cruzes-SP, 5 de fevereiro de 1992)
Cresceu em uma casa simples Praia Grande, litoral paulista. A casa era pequena, improvisada, a poucas quadras de um lixão. Os garotos descalços se comportavam como os donos da rua: eram os carros, e não os pedestres, que precisavam pediam licença para passar.
O menino, conhecido na época por “Juninho”, começou a chamar a atenção aos dez anos, no Grêmio Recreativo dos Metalúrgicos de Santos (Gremetal). Após ser descoberto pelo Santos, ainda criança, pegava ônibus sozinho todos os dias para participar dos treinos. A rotina era tão pesada que ele se acostumou a “passar do ponto” de casa, tamanho cansaço.
O primeiro contrato com o Peixe, em maio de 2004, garantia R$ 450,00 por mês à família. Foi graças a essa ajuda de custos que o menino pôde se dedicar somente ao futebol.
Clubes: Santos, Barcelona (Espanha) e Paris Saint-Germain (França).
Roberto Firmino (Maceió-AL, 2 de outubro de 1991)
Único representante do Nordeste na Seleção, Firmino nasceu e foi criado no conjunto habitacional Dique Estrada, região pobre e violenta da capital alagoana.
O primeiro campo foi a rua de paralelepípedo. Os amigos do bairro e das duas escolas em que estudou, Colégio Tarcísio de Jesus e Colégio Caíque, eram os principais companheiros nas peladas.
Quando jovem, vendia coco na praia para ajudar no orçamento da família. Tornou-se profissional no Figueirense, em Florianópolis, a 3,1 mil km de casa. Sem dinheiro para a passagem, ficou mais de um ano sem voltar para Maceió.
Clubes: Figueirense, Hoffenheim (Alemanha) e Liverpool (Inglaterra).
Gabriel Jesus (São Paulo, 3 de abril de 1997)
Cria do Jardim Peri, comunidade pobre de São Paulo. Começou a chamar atenção aos oito anos, no campo de terra do presídio militar Romão Gomes, em Tremembé, Zona Norte de São Paulo. Para ir aos jogos e economizar no combustível, o treinador do time chegou a colocar onze garotos dentro de um Fusca.
Enquanto Neymar e outros companheiros de Seleção disputavam a Copa de 2014, Gabriel Jesus pintava as ruas da comunidade de verde e amarelo. No ano seguinte, ele seria revelado pelo Palmeiras.
O camisa 9 titular de Tite não teve a presença do pai, que abandonou a família quando o craque era ainda pequeno. A mãe, empregada doméstica, colocava comida na mesa para os três filhos.
Às vésperas do Mundial, o rosto do atacante da Seleção estampa o muro da rua onde o garoto cresceu e descobriu o futebol. Ou foi descoberto por ele.
Clubes: Palmeiras e Manchester City (Inglaterra).

A Depressão da Economia e o Cenário Sombrio para os Trabalhadores

A reza da Gloebbesl sobre a “retomada do crescimento” parece que não foi ouvida pelo Deus-Mercado, já que o cenário macroeconômico não ajuda e a microeconomia sofre efeitos profundos dessa “retomada de crescimento”. Em abril o Real teve uma desvalorização de 11,0% e quando se olha para a catástrofe econômica da Argentina, governada pelo ultraliberal Macri, um “modelo” a ser seguido pela Terra Brazilis, o cenário sombrio do país se cristaliza.

A Consultoria GO e a Tendências Consultoria estimaram que 2,5 pontos porcentuais da recessão de 2015 (que foi de 3,8%) resultaram dos efeitos da paralisia causada pelas investigações e a crise política iniciada no fim de 2014, sem desconsiderar os erros da política econômica feitas no governo Dilma, entre 2011 e 2014, em que, respondendo a um cenário externo negativo, a equipe econômica adotou uma nova política econômica a partir de 2011, buscando a consolidação fiscal; reduziu as taxas de investimento público; e promoveu extraordinárias desonerações tributárias, não compensadas pelo setor empresarial.
 A teimosia de alguns economistas, ao afirmarem que há essa recuperação se explica mais por sua convicção liberal e/ou pelo compromisso com seu empregador, visto que muitos deles são empregados de consultorias financeiras ou econômicas, que precisam gerar a expectativa de recuperação, talvez para internalizar no trabalhador desempregado ou “alentado”, que para voltar ao “novo” mercado de trabalho ele precisará aguardar que a “economia” se ajuste, algo que chega a ser bizarro.

O alegre consumidor da classe média se depara, agora, com a elevação dos preços de produtos importados ou daqueles que tem componentes produzidos no exterior. O trigo, por exemplo, é um bem que tem um alto componente de importação, cerca de 50,0% do total e ele é componente de vários produtos alimentícios, ou seja, o pão, que tanto o pobre como o da classe média comem, deverá ser afetado.

O impacto dessa depressão na vida do trabalhador é devastador. Dados do Cadastro de Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho (CAGED) de 2018, mostram que as vagas que cresceram são aquelas com remunerações de até dois salários mínimos. As vagas formais geradas no início de 2008 eram de até quatro salários e também de sete a dez salários. As novas vagas estão pagando menos, entre 75% e 80% do que a empresa pagava ao empregado dispensado. O “novo” mercado de trabalho revela uma volta ao passado, com efeitos cataclísmicos entre os pobres e miseráveis, que não tem mais uma política estatal de inclusão social.

Com o Congresso paralisado e com seus parlamentares já envoltos na sobrevivência política, a cena econômica da Terra Brazilis ficou literalmente ao “Deus dará”, com os agentes microeconômicos sem condições de fazer nenhum tipo de novo investimento e os grandes conglomerados empresariais buscando alternativas para manter suas margens de lucros, podendo operar no mercado financeiro ou recorrendo ao setor externo. O único setor que navega suavemente nessa crise devastadora é o financeiro, protegido descaradamente pelo governo golpista, que tem obtido lucros permanentes e tem apoiado todas as investidas desse governo em proteger seus lucros.

A sociedade que vive do trabalho é a única que pode brecar essa regressão civilizatória e isso exige cada vez mais que segmentos organizados digam isso à população, buscando quebrar o casulo criado pela mídia. A realidade pode ser dolorida para quem vive vagando nas ilusões dos discursos de 2013, mas uma hora ela vai bater à porta de quem ainda não compreendeu que o Golpe de maio de 2016 jogou esse país no lixo da história.