Por Adalberto Monteiro
Embora avariado pela queda de três ministros alvejados pela
Lava Jato, e impactado pela desgraça que traga Eduardo Cunha, seu irmão siamês,
Michel Temer, usa e abusa do trono presidencial usurpado, para obter os 2/3 de
votos necessários no Senado para se livrar da terrível dualidade de um só país
e dois palácios; um presidente e uma presidenta a um só tempo. Ele, ilegítimo,
ela detentora de um mandato sufragado por mais de 54 milhões de votos.
Freneticamente em busca de votos do Senado, Temer dá mostras
de a que se destina seu governo. Subordina as empresas estatais aos interesses
do mercado; entrega o cobiçado setor da aviação comercial ao capital
estrangeiro, na ordem de 100%; por falar em entrega, estão engatilhados para os
próximos dias a quebra do regime de partilha do Pré-Sal e o fim do monopólio do
Estado na exploração da energia nuclear; e está em andamento o desmonte da
política externa que nos últimos tempos reforçou a soberania nacional.
A caçada aos votos ao impeachment levou Temer a suspender,
por seis meses, a dívida dos estados e a chancelar o aumento de salários do
setor público que estavam à mesa, mandando às favas, em parte, o fervor ao
credo da austeridade. Austeridade, austeridade mesmo, somente contra o povo e
os trabalhadores, ameaçados de cortes de direitos pelas reformas da previdência
e do trabalho, com o fim das dotações orçamentárias obrigatórias para a saúde e
a educação, além do “sumiço” do reajuste do Bolsa Família.
Como era de se esperar, a grande mídia, sócia polpuda do
consórcio golpista, faz a blindagem de Temer naquilo que pode; abre as tampas
de vidros de loção para abafar, ao menos em parte, a fedentina que o ministério
interino exala. Pesados interesses econômicos e financeiros, de dentro e fora
do país, as maquinações do imperialismo, isso tudo conflui para acelerar a
marcha do golpe.
Apesar de tudo isso, a consumação do golpe não é inevitável.
O governo interino se assemelha a um casarão erguido sob um alicerce frágil. O
governo que foi instaurado por um golpe é ilegítimo, e essa ilegitimidade é o
que o fragiliza, o condena à instabilidade. Além disso, a Operação Lava Jato,
que foi determinante para encastelar Temer, pode, agora, por vias diversas
seguir minando esse governo.
A esquerda cumpriu e desempenha um papel extraordinário para
o êxito da resistência democrática. Contudo, desde a grande derrota de 12 de
maio, desde o afastamento da presidenta Dilma, enfrenta-se o natural e
momentâneo refluxo da grande onda democrática que se levantou pelo país afora.
É imperativo desfraldar uma bandeira nova que a um só tempo
robusteça novamente a resistência democrática e ganhe setores do povo para
engrossar a jornada contra o golpe, enfim, que concretize o Fora Temer no
julgamento do Senado Federal.
Essa bandeira, essa plataforma, como se queira, é o
plebiscito por eleições diretas para presidente. Tem apelo popular, tem apelo
entre os senadores e senadoras que decidirão o veredito do julgamento.
Alguns argumentam que erguer a bandeira do plebiscito é
abdicar do Fora Temer. Como? Se o objetivo dessa bandeira é revigorar as
mobilizações, aumentar as possibilidades de virar votos no Senado exatamente
para arrancar o usurpador da cadeira presidencial e devolvê-la à presidenta Dilma?
Outros ponderam. A proposta do Plebiscito nos envereda
novamente aos velhos acordos de cúpula em desprezo ao povo e aos seus
movimentos. Como? Se exatamente o que se propõe é uma consulta ao povo, que do
alto de sua soberania decidiria o melhor caminho para o país reconquistar a
normalidade democrática.
O retorno da presidenta Dilma restaura a legalidade, expurga
o usurpador, o que por si só já representaria uma vitória extraordinária.
Apoiadas nesta vitória e no horizonte que ela abriria, as forças democráticas e
populares sustariam a pauta antinacional e arrasadora de direitos do governo
interino. E também enfrentariam em melhores condições a “operação de cerco e
aniquilamento” à qual estão submetidos sobretudo o PT e a esquerda em geral.
Mas, por que se comprometer com a bandeira do Plebiscito, se
uma vez antecipadas as eleições a probabilidade maior seria o retorno da
direita neoliberal pelas urnas?
Ora, se não concretizarmos o Fora Temer no julgamento do
Senado, essa direita governará até 2018, com uma agressiva agenda neoliberal
que só um governo instaurado por um golpe pode impor. A bandeira do Plebiscito
é um meio para tentarmos expurgar um governo neoliberal já eleito numa eleição
indireta. Por isso, não faz sentido algum sacar do argumento de que haveria um
risco de perder uma possível eleição advinda do Plebiscito.
O que está em foco é a luta das forças democráticas e
populares para reverter uma derrota já ocorrida, prestes a se tornar
irreversível. Essa é a realidade.
Lênin, o revolucionário que dirigiu a mais importante
Revolução do Século 20, sempre alertou para o risco de nos tornarmos
prisioneiros de condutas políticas que envelhecem no curso da luta de classes.
As palavras de ordem, tal e qual as pessoas que as bradam, envelhecem, caducam.
“Não vai ter golpe” envelheceu, pois o golpe está a pleno vapor.
Volta Dilma, Fora Temer, abaixo o golpe estão atuais. Todavia, se não as vincularmos ao compromisso do Plebiscito não reuniremos força política no nível necessário para que se sagrem vitoriosas
FONTE: Portal Vermelho
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