Segundo a Americana Ruby,
que chegou a viver no Brasil, a empresa finlando-sueco Stora Enso, estaria se apropriando de forma
ilegal de solo brasileiro para promover a monocultura de Eucaliptos, ampliando
o fenômeno chamado de deserto verde, no qual o cultivo da terra agride a
natureza, em contraste com a diversidade do campo, visando apenas explorar mão
de obra de países em desenvolvimento com o intuito de extrair o lucro máximo.
Veja matéria abaixo:
O
PLANETA REAGE AOS DESERTOS VERDES
Nascida nos Estados Unidos,
filha de pai holandês e mãe indiana, Ruby van der Wekken passaria por uma
morena brasileira. Aliás, viveu, entre 2002 e 2005, em Alter do Chão (PA),
participando, com o marido, de um projeto de cooperação internacional.
Fisicamente, está agora em Helsinque, Finlândia. Mas seus sonhos e sentimentos
não deixaram o Sul. Em 31 de março, Ruby ajudou a organizar uma ruidosa
manifestação na sede da Stora Enso (ela envia a mensagem final, no vídeo
abaixo). A maior produtora mundial de papel, de capital finlando-sueco,
realizava na capital finlandesa sua assembleia anual de acionsitas. Do lado de
fora, Ruby e seus companheiros denunciavam o envolvimento da empresa em
formação de latifúndios, aquisição ilegal de propriedades, violência contra
trabalhadores rurais e boicote à reforma agrária, no Brasil.
Os textos que a Biblioteca
Diplô e Outras Palavras publicam agora, sobre o tema, são uma continuação, no
plano do debate de ideias, da luta pedagógica de Ruby. Foram produzidos por
jornalistas finlandeses do Le Monde Diplomatique e da revista Voima, com os
quais nossos sites mantêm acordo de reprodução de conteúdos livre de copyright.
Revalam a existência, nos países do Norte, de setores da opinião pública
interesados em romper as cadeias internacionais de produção e consumo alienados
que oprimem as maiorias no Sul.
Redigido por Hanna Nikkanen,
de Voima, o primeiro texto é uma denúncia da ação da Stora Enso no Brasil (algo
desconhecido pela esmagadora maioria dos brasileiros). Em poucas páginas,
ácidas e riquíssimas em fatos, Hanna desfaz o mito de “responsabilidade social”
a que a Stora Enso está procurando se associar, na Finlândia e em todo o mundo.
Por trás desta imagem, relata o texto, a empresa reproduz um velho modelo de
concentração de riquezas. Desloca para os países em desenvolvimento (América do
Sul e China) as atividades mais sujas ambiental e socialmente. Concentra,
contudo, todas as decisões estratégicas no andar de cima do planeta.
O rol das atividades
executadas, para tanto, inclui posse disfarçada de terras em zonas de fronteira
(o que a lei brasileira veda a estrangeiros). Atravessa as próprias eleições
brasileiras (A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, é muito grata às
contribuições eleitorais da Stora Enso; e a polícia militar sob seu comando,
particularmente violenta, quando os sem-terra enfrentam a companhia...). Chega
à política empresarial de manter as plantações de árvores no Brasil (onde terra
e trabalho são muito mais baratos) e exportar, para a Finlândia, pasta de
celulose não-industrializada. A etapa mais lucrativa da produção de papéis
finos mantém-se na matriz.
Hanna relata, ao final, o
desmascaramento de uma mentira. A política de “limpeza de imagem” da Stora Enso
incluía uma difamação. O Movimento dos Sem-Terra (MST), que resiste às relações
de exploração praticadas pela transnacional precisava ser demonizado. Para
tanto, João Paulo Rodrigues, um dos líderes nacionais do movimento, foi
acusado, no principal diário finlandês, de “exigir” que a empresa se retirasse
do Brasil. Em caso de negativa, teria prometido desencadear violência e até
mortes. Hanna participou ativamente, como se lê em seu texto, da desmontagem da
farsa.
O segundo texto, de Mika
Ronkko (editor do Le Monde Diplomatique finlandês e marido da ativista Ruby van
der Wekken) é uma entrevista com o próprio João Paulo Rodrigues e João Pedro
Stédile, também referência nacional do MST. Nas conversas com Mika, Stédile e
Rodrigues deixam claro que a luta dos sem-terra não é contra o eucalipto, seu
plantio ou a fabricação de papel no Brasil. O que eles querem é rever é a forma
de cultivo e, em especial, as relações sociais que ela gera.
Papel, um dos usos do
eucalipto1 e o produto final da Stora Enso é um bem necessário. Poderia ser
consumido de forma mais racional e austera, evitando a necessidade de ampliar a
exploração dos solos águas. Mas, acima de tudo, não precisa ser cultivado em
latifúndios, nem como monocultura – um atentado à diversidade natural do campo.
“Um pequeno produtor poderia
cultivar, digamos, dois hectares de eucalipto, numa propriedade de dez hectares”,
sugere Stédile. Plantaria, além disso, alimentos. Ao invés de comprar imensas
áreas, a empresa estabeleceria relações com milhares de pequenos produtores.
Perfeitamente viável, do
ponto de vista técnico, a idéia não é executada por esbarrar num obstáculo
político. O capital não existe para fazer caridade. Enquanto as sociedades não
se conscientizarem e mobilizarem, sua tendência será sempre extrair o máximo lucro
– sejam quais forem as consequências sociais e ambientais.
O mês de mobilizações do MST
revela, mais uma vez, que uma parcela crescente dos agricultores brasileiros já
não aceita estas circunstâncias. É estimulante saber que o mesmo se dá nos
países onde estão sediadas as empresas que promovem desigualdade e devastação.
(Antonio Martins)
Fonte: Biblioteca Diplô
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