Conhecer
a origem do que você come vai além do papo saudável sobre comida. É isso
(também) que ficou claro quando estive com integrantes do MST, durante a
inauguração do Armazém do Campo, uma loja aberta no dia 30 de julho no bairro
da Barra Funda, em São Paulo. No espaço mantido pelo movimento é comercializada
a produção agrícola excedente dos assentamentos e também é possível encontrar
outros produtos industrializados orgânicos — tudo a um preço justo.
Por
Carla Castellotti
O
armazém fica na região central da capital paulista O armazém fica na região
central da capital paulista
A
ideia da criação do entreposto surgiu depois da 1ª Feira Nacional da Reforma
Agrária, realizada no Parque da Água Branca, em São Paulo, em outubro de 2015.
A feira, que colocou à venda cerca de 800 variedades de produtos cultivados em
assentamentos do MST, deu tão certo que a ideia do Armazém ganhou forma.
Delwek
Matheus, assentado da região de Itapeva (SP), e um dos integrantes do MST a
explicar a função do espaço aos jornalistas convidados para a coletiva de
imprensa, contou que o movimento tem produção em todos os estados do país e que
"a abertura do Armazém é uma forma de fazer valer o compromisso político
da reforma agrária, seja levando alimentos saudáveis à mesa das pessoas, seja
melhorando a renda do agricultor".
Numa
rápida volta pelo Armazém do Campo, localizado no bairro da Barra Funda, você
encontra desde os produtos da marca parceira Mãe Terra a arroz, feijão e
cachaça orgânicos, produtos da reforma agrária — estes últimos têm um selinho
do MST pra você saber diferenciar dos demais. Há também hortifrúti reposto três
vezes por semana e mais vidros com conservas, além de uns regalitos culturais
como livros e cadernos — e um café orgânico muito bom.
Tudo
isso sem você se sentir assaltado por ir checar os preços da seção dos
orgânicos. Delwek Matheus, aliás, foi categórico em dizer que é mito essa
história que produzir orgânicos é mais caro. Rodrigo Teles, filho de assentados
do Paraná e coordenador do espaço, explica como a matemática do preço é
possível: "Nós vendemos os produtos aqui a preço justo fazendo com que o
agricultor, na ponta da cadeia produtiva, seja bem remunerado já que não
trabalhamos com a figura do intermediário".
O
Armazém, além de dar aquela força para o produtor, também funciona como
revendedor dos produtos dos assentamentos — Teles diz que eles fazem preços
diferenciados para compras maiores, tipo atacado. Há também entrega de compras
na sua casa e pacotes mensais com cestas de produtos da reforma agrária.No
sábado, dia 1º de agosto, quando o Armazém do Campo foi aberto ao público, era
possível ter uma mostra de como a venda de produtos orgânicos sem atravessadores
já começava a dar certo. Às 10h15 da manhã, passados quinze minutos da
inauguração, já era difícil circular pelo espaço lotado de gente — e olha que
na mesma rua do Armazém há feira aos sábados além de um hortifrúti há poucos
metros dali. Para checar a informação, fiz a lição de casa e comparei os preços
dos orgânicos do Armazém do Campo com seus equivalentes vendidos no
supermercado Pão de Açúcar e numa rede paulista de orgânicos chamada Quitanda
Orgânica. Foram escolhidos 15 itens bastante populares, entre eles feijão,
ovos, suco, açúcar, salgadinho (ninguém é de ferro), legumes, alface, banana e
frango.
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