Por
Professor Thiago Costa
Vivemos
hoje em um mundo globalizado, sob uma hegemônica influencia do modo capitalista
de produção e de suas decorrentes filosofias e valores, mas, também por uma
infinidade de contradições e processos de resistências que emergem como reação
aos processos de marginalização e exclusão típicas do modelo de sociedade em
que vivemos.
Por
um lado, o século XX foi um momento de avanços tecnológico, cientifico, da
expansão dos ideais democráticos, do reconhecimento dos direitos universais dos
seres humanos e, dentre eles, o direito a educação pensada em uma perspectiva
universalista e expresso em documentos internacionais, a exemplo da Declaração
dos Direitos Humanos; por outro lado, evidenciou-se a eclosão de duas grandes
guerras e um decorrente estado de medo e incertezas, o surgimento de regimes
totalitário sustentado tanto por pensamentos de direita quanto de esquerda, o
crescimento da intolerância calcada em fundamentalismo racistas, sexista e
religiosos, a continuidade da pobreza marcada por um fosso de desigualdades
entre indivíduos de um mesmo pais, continente ou dentro da dinâmica da ordem
mundial e, mas, recentemente, os ditames que emanam das novas correlações de
forças entre as nações e instituições supra nacionais que, por sua vez, se
inserem dentro de um constatado processo de globalização e transnacionalização
do capitalismo que, sob diferentes formas e intensidades, impactam os
estados-nação.
Dentro
desse contexto, no que se refere à questão do estado-nacional, nos importando
aqui o que diz respeito à educação, cabe-nos uma reflexão a respeito de qual o
papel dos governos no que se refere ao planejamento e a elaboração de politicas
públicas para aquele setor diante o cenário de expansão do ideário neoliberal
que ganha força na década de 1990 e que tem ditado o rumo das diretrizes da
vários governos pelo mundo.
No
entanto, antes de adentrarmos a essa questão, é importante ainda refletir sobre
o lugar da educação nas politicas publicas em outros contextos. É preciso
destacar que a educação, o processo de escolarização, de aculturação, esteve
presente em várias sociedades sendo necessárias as estratégias de coesão,
aculturamento, transmissão de valores, ou, ainda, como estratégia de introdução
de mudanças comportamentais, como processo de resistência, uteis quando em momentos de discussão de novos rumos
dentro das coletividades.
A
educação, pensada nessa perspectiva de hegemonização cultural, foi elevada a um
importante pilar dos estados-nacionais, característico do período compreendido
entre o final do século XIX e inicio do século XX, que a percebia como
indispensável a construção de uma identidade nacional, o que na prática
desembocou em politicas educacionais excludentes, uma vez que ignorava a
diversidade, a pluralidade de sujeitos para aos quais se destinava, resultando
em exclusão e em fracasso escolar.
Esse
papel do estado com relação à implementação de politicas educacionais
acentua-se, principalmente, após a crise de 1929, que se origina nos Estados
Unidos e expande-se para várias regiões do globo. Entre outros desdobramentos
daquela crise destacamos a incerteza, ou mesmo descrença, na eficácia da “mão
invisível do mercado” e na emergência de um novo papel do estado como promotor
do bem-estar-social que tem como marco o New Deal, fato esse que vai inspirar
governos de vários outros países.
Essa
nova perspectiva e de atuação do estado, visto como principal responsável pela
elaboração de politicas públicas, que tem o seu augi nas décadas de 60 a 80 do
século XX, coincide no, no Brasil, com o estado desenvolvimentista, no qual os
governos terão um papel central no planejamento e implementação das politicas
educacionais, destacando-se nesse período o ensino tecnicista.
O
estado de bem-estar social, enquanto promotor de bens e serviços, incumbia os
governos de um papel central na definição dos rumos e estratégias referentes as
politicas educacionais, ainda que tais politicas, inegavelmente, em menor ou
maior grau, fosse condicionada das tensões oriundas das relações de poder e
pressões surgidas de diversos setores da sociedade.
Não
obstante, a partir da década 1990, no Brasil e em muitos países que passam a
ser denominados de mercados emergentes, nota-se uma crescente submissão aos receituários
neoliberais. O estado, a partir de então, abdica, em grande parte, do
centralismo que exercia na elaboração das políticas publicas para educação,
repassando para os sistemas e instituição de ensino a autonomia na definição
das estratégias, rumos e objetivos da educação nacional.
Frise-se
que se trata, nesse caso, de uma questionável autonomia, pois, em um mundo cada
vez mais globalizado e capitalista, nos quais os estados são concebidos muito
mais como mercados do que enquanto nações, a lógica e os métodos mercadológicos
tem sido presenças marcantes nas politicas de governo.
Autonomia
questionável quando se percebe que o fazer pedagógicos e o gerenciamento dos
sistemas de ensino ou mesmo das unidades escolares não devem prescindir de um
olhar sobre os instrumentos regulatórios que os condicionam e que, por sua vez,
originam-se de instancias supranacionais, tano no âmbito externo quanto no
âmbito interno.
Em
meio aos interesses do mercado, os governos “não podem”, ou pelo menos “não
devem”, contrariar os ditames que vem de organismos como OMC, Banco Mundial,
FMI, OCDE e que hoje, nitidamente, exercem forte influencia sobre as politicas
exercidas na administração dos estados nacionais. Considere-se, ainda, que tais
governos encontram-se no cerne da correlação de força, nas disputas de
interesses, que envolvem aqueles condicionante externos, os interesses de
vários seguimentos da sociedade, os processos de embate e resistência que
ocorrem na atuação das ONGs, dos movimentos sociais, da luta sindical
considerando que também são fatores que tencionam e condicionam as politicas
educacionais. Isso porque no cerne dessas tensões encontram-se projetos de
sociedades e tipos de cidadãos os quais se desejam que sejam viabilizado por
meio da educação escolar.
Assim,
em meio a esse cenário, o estado passa a transferir responsabilidade, delegando
autonomia as instituições, incumbindo-se prioritariamente na definição de
marcos regulatórios e de instrumentos avaliativos para acompanhar o desenvolvimento
da educação e os seus resultados através de exames nacionais.
Cabe
aqui destacar que tais avaliações apesar de uteis na definição das politicas
publicas educacionais e no acompanhamento do trabalho desenvolvido nas redes de
ensino e das unidades escolares, tem sido por vezes questionadas em razão de
seu caráter homogeneizante, que analisa apenas uma fração muito limitada do
processo de escolarização reduzindo-o a aquisição de alguns saberes,
principalmente nas áreas de português e matemática.
Nesse
sentido, apesar da utilidade de instrumentos de avaliação como a Prova Brasil e
o PISA, verifica-se que os mesmos além de desconsiderarem muitos outros
momentos do processo de ensino e aprendizagem presentes nas escolas e, ainda,
todo o contexto social, econômico e político que as circunscrevem, tem servido
muito mais como um instrumento de responsabilização dos agentes e instituições diretamente
envolvidos com o processo educacional do que como uma fotografia aproximada da
realidade da educação.
Partindo
das análises tecidas ate aqui, percebe-se que o estado nacional, concebido como
provedor de bens e serviços para aqueles para os quais governa, tem se deparado
com uma considerável crise que põe em questão a sua sobrevivência, pois, tem
sido fortemente condicionado por instancias supranacionais, com destaque para a
forte influencia dos interesses do mercado sobre as politicas educacionais
implementadas pelos governos.
Nesse
cenário, ainda bastante indefinido, a participação dos sujeitos, dos cidadãos,
no sentido critico-reflexivo e em caráter de militância, parece ser uma
exigência inevitável para aqueles que não pretendem apenas se subordinar aos
ditames mercadológico desse processo de globalização e transnacionalização capitalista.
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