Por Professor Thiago Costa
São interessantes os
argumentos utilizados por alguns trabalhadores, ou membros da classe média
brasileira, que carecem de outras leituras além daquelas disponibilizadas pela
mídia dominante.
Uma das grandes fragilidades
desses argumentos é o desconhecimento da dialética entre o presente, o passado,
as transformações econômicas e sociais vividas ao longo dos mais de 500 anos da
história dessa nação e o intrínseco caldeirão de relações estabelecidas, sob
diversas formas, entre os vários extratos da nossa sociedade que pode ser resumido,
grosso modo, aos embates entre as elites e a classe trabalhadora.
A elite da qual falo, é
principalmente aquela oriunda das velhas famílias de nossos colonizadores, que
escravizarão os nativos dessa terra, os negros africanos e promoveram precarização
das condições de trabalho e vida dos brancos pobres.
É a velha elite que se intitula de coronel no período
imperial e que se estende até meados do século XX, ou mais, subjugando,
explorando, encurralando e violentando os trabalhadores do campo e da cidade. Trata-se, por tanto, da velha e má elite que submeteu
o país a um regime sangrento e que, posteriormente, com as receitas neoliberais
que se estende até o último ano de governo FHC, continuou nos assaltando e nos
privando da riqueza que produzimos.
É triste ver, diante de um
primeiro momento de crise, os trabalhadores desconsiderarem e até negarem os
avanços sociais que obtivemos nos últimos 12 anos, dos quais muitos deles foram
beneficiados.
Fico me perguntando se
perderam a memória, pois, lembro-me muito bem da angustia que eu sentia,
juntamente com milhões de jovens brasileiros, que desejavam entrar no mercado
de trabalho e não conseguiam, pois, nem tínhamos qualificação e nem experiência.
Hoje vejo jovens fazendo Pronatec,
cursando Institutos federais, tendo acesso a cursos superiores como medicina ou
direito (antes reservados exclusivamente a elite), tendo oportunidade de
fazerem intercambio no exterior, em fim, tendo as condições mínimas para se
preparem para disputar uma vaga no tão sonhado mercado de trabalho e, com isso,
darem uma vida melhor a seus filhos.
É fato, que estamos vivendo
um momento de crise politica, crise nas instituições, crise econômica. Porém, é
sandice incorporar discursos fajutos, de fácil assimilação e repetição, apenas
para termos o que conversar nas redes sociais ou nas mesas de bar e pousar de
cidadão critico.
É fato que existem corruptos
no PT, como também existem no PSDB, no PMDB, no DEM, em empreiteiras, nas
instituições públicas e, sejamos sinceros, em muitos atos corriqueiros que,
muitos entre nós, que se dizem cidadãos, portadores da moral absoluta e dos
bons costumes, cometemos em nossa vida pessoal.
Não quero dizer que todos
são corruptos, mas, simplesmente, afirmar que a corrupção está em toda parte e
que, mudar um governo e abrir mão de um projeto de nação, que inclusive vai
muito além da vontade exclusiva desse próprio governo, seja a solução para
aniquilar o mal social que é as praticas corruptas existente em nosso país.
É preciso abrir as mentes, enxergar
que a raiz de tudo está no tipo de estado que temos, um estado burguês, cujas
instituições, as leis, as regras do jogo politico, as mídias são burguesas e,
portanto, estão a favor da burguesia, do grande capital nacional e
internacional, das grandes corporações empresariais, do agronegócio, dos bancos
privados.
É preciso reformar o estado,
é preciso ir às ruas pela reforma da mídia, pela reforma política, por mais
participação social, pela garantia dos nossos direitos, por um estado que seja
cada vez mais garantidor do bem está social, da justiça e da igualdade.
É preciso ir as ruas, por
exemplo, contra essa PL da terceirização, aprovada por muitos dos parlamentares
que elegemos, muitos deles aqui do nosso estado.
Temos nesse projeto de lei
um motivo legítimo para irmos às ruas, pois, trata-se de uma tentativa de
acabar com o concurso público como principal mecanismo de acesso ao emprego público,
trata-se de dificultar significativamente as garantias dos nossos direitos
trabalhistas, da precarização das nossas condições de trabalho, de abrir mão de
uma politica de valorização salarial, enterrar a CLT e mutilar fatalmente os
nossos direitos trabalhistas.
No entanto, não me recordo
de ter visto, nas manifestações que ocorreram no último dia 12 de abril, nenhum
cartaz rejeitando a PL da Terceirização. Pra piorar, ainda chegam ao absurdo de
ignorar e até advogar pela redução da maior idade penal.
Pedir a redução da maior idade
penal é desconsiderar que, por mais que a violência e a criminalidade também
existam entre membros das classes mais favorecidas, das elites, é nas camadas
mais desfavorecidas que ela se acentua, pois, são justamente os filhos dessas
camadas que são, desde o momento de sua concepção, quando ainda estão no ventre
de suas mães, desprovidos do acesso a saúde gestante, de falta de moradia, de
falta de emprego, falta de saneamento básico, ausência de salários dignos, em
fim, sendo circunscrito em um estado de miséria e exceção.
E até podemos dizer que não
temos culpa, mas, a culpa existe quando não cobramos a conta de quem realmente
tem dívida e assistimos coniventemente o oprimido sendo responsabilizado e
punido pelos resultados da opressão que sofre, quando advogamos, sob um momento
de alienação de nossa própria consciência, pela redução da maior idade penal.
A criança ou o adolescente,
reconhecidamente cidadão diante de nossa ECA, deve sim ser submetido ao julgo
da lei. Porém, é preciso considerar o principio da proporcionalidade, ou seja,
a sua condição de criança e de adolescente, e aplicar a lei no sentido de lhe responsabilizar,
punir, de modo proporcional, e reintegrar esse cidadão ao convívio social, e
não querer trata-lo como adulto, lhe colocando nos mesmos espaços habitados por
sujeitos com longo histórico de vida criminal.
É lamentável ver alguns
trabalhadores, que são os verdadeiros produtores da riqueza do nosso país, e
quem menos tem acesso aos benefícios dessas riquezas, não perceberem de fato
aonde estão os nossos verdadeiros inimigos e, dessa forma, se munirem da
ideologia de seus próprios opressores e continuarem atirando, dia após dia,
contra o seu velho e massacrado dedão do pé.
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