O indivíduo cria um feudo
dentro de si, constrói sua fortaleza, busca se impor em um mundo de lobos. Esse
ser que se pensa como indestrutível, com todo o seu aparato de falsas emoções e
sentimentos que cria em torno de si, frustra-se no primeiro momento em que se
percebe como escravo da própria alienação, que cultivou por estimulo externo e perverso
da sociedade capitalista em que vivemos.
E essas ilusões que servem
como base para construção dos super-humanos são, utilizando-se de expressão bem
popular, foda! Isso por que fodem o indivíduo, engravidando-o por dentro,
fecundando sua personalidade com o germe da ilusão.
Iludem-se, as feras, ao
crerem que têm livre escolha, que podem ter o que quiserem, consumirem o que desejarem.
“Tudo está ao alcance de suas mãos, basta
que se tenha objetivo, dedicação, espírito competitivo e uma vida focada em
muito trabalho”. Será?
O outro pode até ser meu irmão,
meu colega, meu amigo do peito, desde que não me atrapalhe. Assim, busca-se um
lugar ao sol, aonde se possa ter de tudo e um pouco além daquilo que passa na
televisão e do que se apresenta por trás das vitrines.
Têm-se, assim, a embriaguez desse
ser fantástico, que o impede de perceber a teia em que se encontra cativo, enclausurado.
A vida passa, os filhos crescem,
criam pelos, entram no mundo das drogas ou no mínimo se tornam adultos frustrados.
E quando menos se espera: o que aconteceu? O que eu fiz de errado? Só acontece
comigo! É culpa do sistema!
O ar mais poluído, as
florestas desaparecendo, a criminalidade exacerbando-se, as pessoas se
marginalizando e negando umas as outras. O planeta e a sociedade se esfacelando
pelo bem da fome insaciável do capital.
Coletividade vira sinônimo de
blasfêmia, heresia, crime de estado a ser tratado como hediondo, produto de psicopatas
que comem os fígados das criancinhas. Enquanto isso, os Eus feudais se perdendo, anacronicamente, nas ilusões de suas Las
Vegas particulares.
E assim segue a vida. Olhos vendados,
cada um no seu quadrado e o Eu no
centro. Tudo a mercê do mercado!
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