terça-feira, 29 de março de 2011

ALERTA: O aluno é o bode expiatório da exclusão social.


Antônio Neves
Professor e sindicalista.

   É muito comum em tempos de greves nos sistemas públicos de ensino, se ouvir, principalmente nos meios de comunicação, discursos piedosos em relação ao fato de alunos estarem sendo "prejudicados" pela falta de aulas por causa das greves.

   A pergunta que fazemos é: alunos são prejudicados somente porque Professores fazem greves, que na maioria das vezes são justas, ou são os alunos prejudicados permanentemente, pela péssima qualidade do ensino que sofre todo tipo de crimes por parte dos gestores públicos: prefeitos, governadores e subordinados?

   O mito de que o aluno, sejam crianças, jovens ou adultos são os sempre prejudicados (e também os são) faz parte do discurso ensaiado e demagógico de quem conhece pouco, seja por omissão ou por conveniências, a realidade do ensino público brasileiro. Muitas vezes desconhece a realidade da escola de seu próprio bairro e até mesmo do lugar onde seu próprio filho estuda. Em Caicó, escolas, principalmente do ensino infantil nas periferias estão quase que desmoronando na cabeça de crianças. São nos bairros pobres, que geralmente estão esquecidos pelos gestores, que lá só vão em tempos de eleições, onde a situação do descaso e do abandono da educação se faz mais presente.

   Problemas permanentes como a merenda escolar, muitas vezes de péssima qualidade, é servida em espaços dentro das escolas que mais parecem chiqueiros, sem ou devidos critérios de higiene e organização do espaço para alimentação de pessoas humanas. Muitas das refeições são servidas na própria sala de aula, e sala de aula não é refeitorio, e os refeitórios, quando existem estão fora dos padrões aceitáveis de acesso e segurança, principalmente para crianças portadoras de necessidades especiais.

   Quanto as salas de aulas, mais parecem gaiolas de criar pinto. Na maioria dos casos, em salas que só comportam 15 alunos, Professores são obrigados a lecionarem para mais de 25, 30 estudantes, debaixo de temperaturas insuportáveis, por falta de climatização adequada, se considerarmos que na nossa cidade, o ano inteiro é sempre muito quente, e  um único ventilador não dá conta de 30 alunos incendiando com o calor do semi-árido nordestino. 

  Um vício comum nas escolas municpais é a presença de profissionais pouco qualificados, com pouca ou nenhuma experiência e sem a formação adequada, escolhidos através de contratos de prestação de serviços temporários para ensinar nas escolas. O que condiciona o ensino a um modelo semi-profissionalizado onde muitos desses não estão preparados para a tarefa e a realidade que encontram pela frente. Nesses casos o que prevalece são as velhas práticas clientelistas e de trocas de favores em que prefeitos, vereadores e deputados usam como moeda eleitoral.

   Muitas das escolas públicas, estão localizadas perto de lixões, sucatas e esgotos à céu aberto. BRs de intenso tráfego de veículos, passam à margem de seus portões, onde o barulho constante atrapalha em muito, o desempenho não só dos Professores, como dos estudantes, gerando uma situação de estresse absoluto pelo excesso de barulho externo. Campos de concentração, é o que vem à lembrança, quando chego em certas escolas da rede municipal de ensino de Caicó.

   Se o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, a Constituíção Federal - CF e os Direitos Humanos fossem respeitados e exigidos, principalmente aqui no município de Caicó, quase nenhuma escola municipal estaria funcionando, pois as condições estruturais são desumanas e desrespeitam qualquer direito fundamental do cidadão.

   Por isso, a você que é pai, comunicador, radialista, Professor, gestor público, aluno ou um simples cidadão comum, antes de construir qualquer juízo de valor sobre a situação da escola pública, sobre os direitos dos alunos ou profissionais da educação, procure conhecer pessoalmente uma escola, visite e converse com Professores e outros funcionários, é uma atitude menos isolada do que querer fazer de crianças, jovens e adultos estudantes, bodes expiatórios para justificar o descaso social de um modelo de sociedade que só enxerga o próprio umbigo e muitas vezes glorificam as inverdades que a maioria dos prefeitos e governadores constroem para se justificarem diante da confusa opinião pública sobre a realidade da escola e da educação.

   Querer colocar no mesmo grau de interesses e compreensões, a desigual disputa entre escola pública e privada, suas qualidades, investimentos, contradições e resultados, diante do papel e compromisso pela vida e a construção da cidadania que cada uma se dispõe, é nivelar por baixo o pensamento e a função social da escola pública com os interesses dos que estão à serviço da especulação do capital, das fórmulas mecânicas da difusão do saber e dos interesses individuais entre os que podem pagar e usufluir e os que não podem pagar e tem que ficar com as migalhas.

   Ou salvamos a educação através da valorização da escola pública, ou estaremos condenando um país inteiro a viver da mentira e da ignorância, favorecendo um fosso de excluídos que de uma maneira ou de outra vai no futuro cobrar a fatura de uma dívida social através da violência.

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