O momento político do Brasil desperta paixões. Obviamente,
não haveria como ser diferente em uma conjuntura de rompimento do pacto
democrático, firmado após a ditadura militar, e da ofensiva golpista de um
grupo que não aceitou o resultado das urnas.
Por Carina Vitral
Vivemos um dos momentos mais complexos e mais graves da
história nacional, com a peculiaridade de um golpe de Estado sem tanques, mas
com a violência autoritária de setores do parlamento, a mão de ferro do
judiciário, a ação ilegítima de uma mídia nativa monopolizada, o controle das
opiniões e da verdade.
Frente a esse cenário, os movimentos sociais, os setores
progressistas da sociedade precisam respirar fundo, entender o que está em
jogo, planejar o contra-ataque para recuperar o que foi tomado do país: a
democracia. A União Nacional dos Estudantes realizou esse exercício de reflexão
e debate no último fim de semana, em São Paulo, durante o seu 64º Conselho
Nacional de Entidades Gerais (Coneg). O resultado foi a resolução da UNE em
apoiar a proposta de um plebiscito para consultar a população acerca da
realização de novas eleições. Trata-se de uma luta conjunta, travada ao lado da
resistência ao golpe, da denúncia dos desmandos do governo de Michel Temer e a
busca pelo retorno da presidenta eleita ao seu cargo.
Para os estudantes e outros movimentos, o pacto que foi
rompido e não será restituído com a política de gabinetes, com o desenrolar do
contaminado jogo institucional que se apresenta. Um novo pacto qualquer não
terá legitimidade sem a participação popular direta, sem o protagonismo dos
milhões de brasileiros que se sentem mal representados pela classe política em
geral e desejam sua renovação. A fragilidade do atual sistema se mostrou
escancarada com a tomada de assalto da República por personagens como Eduardo
Cunha, o tirano que dá as cartas sob holofotes ou nos bastidores, manipulando
toda a dinâmica do presidencialismo de coalizão e fazendo do futuro do país uma
partida sádica de xadrez.
O plebiscito será como a retirada do poder de narrativa
dessas figuras como Cunha, Temer e outros cujo projeto é rejeitado pela
maioria, entregando-o à população. É o horizonte de uma nova disputa a ser
vivida nas ruas, junto aos trabalhadores, aos jovens, pobres, camponeses, às
mulheres, negros, indígenas, a população LGBT. Assusta aos golpistas, como os
dois citados logo acima, a possibilidade de precisarem defender sua agenda na
luz do dia, em uma campanha na qual precisariam justificar o desmonte das leis
trabalhistas, os cortes nos programas sociais, na educação, na saúde, a
retirada de direitos, a priorização dos grandes interesses econômicos em
detrimento do desenvolvimento dos menos favorecidos. O plebiscito é um desafio
para “botarem a cara” e dizerem a que vieram.
A cara da UNE já está aqui, esperando os que aceitam o
embate sem golpes, sem viradas de mesa, frente a frente com o povo. O
plebiscito é uma construção que está amadurecendo entre as diversas correntes
da sociedade, a partir do debate respeitoso e de uma nova articulação popular
formada pelas bases, como sempre foi nos momentos mais críticos da história do
país. É uma proposta que agrega consensos e que acua os inimigos em comum. A
juventude quer ouvir a voz do Brasil sobre novas eleições. Você também quer?
Vamos juntos.
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