Na opinião de sindicalistas e lideranças do
movimento social, os atos desta quarta-feira (15) contra o projeto de reforma
da Previdência Social de Michel Temer serão expressivos e podem ganhar a adesão
do cidadão comum. Para dirigentes, parcelas da sociedade que não fazem parte de
movimentos organizados começam a se preocupar com a aposentadoria – o que deve
fortalecer os protestos do dia 15.
Por Railídia Carvalho
Fetag-RS
Ato contra reforma da Previdência em Santa
Rosa (RS) reuniu no final de fevereiro milhares de trabalhadores Ato contra reforma da Previdência em Santa
Rosa (RS) reuniu no final de fevereiro milhares de trabalhadores.
Os atos são iniciativa conjunta das centrais
de trabalhadores e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Estão
programados para acontecer em todas as capitais brasileiras e em diversas
outras cidades.
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, afirmou, em entrevista ao Portal Vermelho,
que o MTST deve comparecer ao ato da Avenida Paulista, em São Paulo, nesta
quarta com cerca de 25 mil militantes.
Mobilização
expressiva
“Vai ter bastante gente não só em São Paulo
mas em todo o Brasil. Toda a mobilização está bem expressiva. Muitas categorias
vão fazer paralisação. Da parte do movimento (MTST) existe uma clareza de que é
preciso fazer encaminhamento mais amplo, que é a defesa da Previdência Social”,
explicou Boulos.
O projeto de reforma da Previdência Social
apresentado por Michel Temer tramita em comissão especial da Câmara dos
Deputados através da Proposta de Emenda Constitucional 287/2016. Na opinião de
sindicalistas, economistas, parlamentares e trabalhadores, a iniciativa de
Temer acaba com a possibilidade do brasileiro se aposentar.
O
governo Temer defende a adoção da idade mínima de 65 anos para homens,
mulheres, trabalhadores rurais e urbanos. Em 19 cidades brasileiras, a
expectativa de vida é de 65 anos, ou seja, muitos trabalhadores sequer estarão
vivos quando chegar a idade de se aposentar. Os mais penalizados serão os mais
pobres que entram mais cedo no mercado de trabalho.
Adesão
da população
No caso dos trabalhadores rurais, que
trabalham mais de 41 anos para ter acesso à aposentadoria de um salário mínimo,
a reforma de Temer é perversa. Carlos Gabiatto, secretário de Assalariados(as)
Rurais e de Políticas Sociais na área da Previdência Social da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura no Estado do Paraná (Fetaep), observou que à medida
que a população tem contato com o projeto tende a aderir aos protestos.
“Vi com alegria quando estivemos, na semana
passada, em Maringá, Curitiba e Cascavel e vi a participação da população no
comércio, carros buzinando em apoio à manifestação contra a reforma da
Previdência. Estamos ganhando adesão”, disse Gabiatto. Ele lembrou que a
expectativa de vida do trabalhador do campo é menor do que a do trabalhador da
cidade.
O alegado deficit da Previdência que é o
argumento do governo para a reforma é contestado pelas entidades de
trabalhadores rurais. Documento da Confederação dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais (Contag) afirma que a Previdência Rural “produz melhoria
na qualidade de vida de várias famílias do campo”. Também fortalece o comércio
de mais de 70% dos municípios brasileiros.
Contraponto
Rogério Nunes (foto), secretário de
políticas sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB),
tem boa expectativa em relação aos atos de quarta-feira. “Trabalhadores da
educação pública e privada, condutores, metroviários, trabalhadores da água e
esgoto devem paralisar unidades da Sabesp, entre outras categorias. Há um forte
movimento aqui em São Paulo que tem a expectativa de levar cem mil pessoas para
a Paulista”, contou.
Na opinião
de Rogério, os movimentos sociais e sindicatos estão conseguindo furar um pouco
da propaganda do governo Temer, que faz terrorismo com o fim da Previdência, e
dos grandes meios de comunicação que apoiam a reforma.
“Apesar
da nossa divulgação ser insuficiente comparada com os grandes meios, estamos
fazendo esse contraponto. A população está sendo bombardeada e mesmo assim
começa a ficar preocupada. Acho que pode ser um prenúncio de uma futura
convocação de uma greve geral”, avaliou Rogério.
Ataque
ao Prouni
Para a presidenta da União Nacional dos
Estudantes, Carina Vitral, começa a ficar claro para a maioria da população os
prejuízos que a reforma trará para a população brasileira em geral e a
juventude em particular.
“A juventude será a mais prejudicada com a
reforma da Previdência porque o jovem nunca mais vai poder se aposentar a menos
que comece a trabalhar aos 16 anos e nunca deixe de ter o emprego com carteira
assinada e de contribuir”, enfatizou.
De acordo com ela, a reforma de Temer vai
extinguir 600 mil vagas do Prouni (Programa Universidade para Todos). “Uma das
coisas que nos une na rejeição à PEC é o tema do fim da filantropia nas
universidades como PUC e Mackenzie. Essas instituições trocam seus impostos por
bolsas e o relator incluiu o fim da filantropia na reforma da Previdência, ou
seja, menos 600 mil bolsas do Prouni no Brasil inteiro, o que pra gente é um
tema muito caro”, esclareceu Carina.
Boulos acredita que haverá adesão nos
protestos de quarta de parcelas que não fazem parte do movimento social. “Mas
não será apenas neste dia, o processo continua na Câmara quanto no Senado. No
meu entendimento está numa crescente. A mobilização popular contra a reforma começa
a se tornar mais crítica.”
De acordo com Gabiatto, uma estratégia que
precisa ser intensificada pelo movimento social é a pressão aos deputados nas
bases eleitorais. “É diferente um sindicalista dizer pra um deputado que a
reforma é prejudicial do que aquele eleitor que o parlamentar vai procurar o
ano que vem pra pedir voto e ouvir que ele não concorda com a reforma.
Conversar com o deputado no gabinete é importante mas não é tão forte do que
alguém com uma faixa na frente da casa do deputado”, defendeu o dirigente.
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