sexta-feira, 1 de março de 2013

Polemicas acerca da Universidade Federal do Seridó





Nesta quinta feira passada, ontem, a governadora do RN, Rosalba Ciarline, reuniu-se com prefeitos da região seridó, parlamentares e outras personalidades políticas do estado para discutir a criação da Universidade Federal do Seridó.


O debate sobre esse projeto novamente vem à cena cercado por algumas polêmicas. O padre João Medeiros, presente na ocasião, ressaltou a importância de que, caso a nova universidade torne-se realidade, priorize cursos de acordo com as potencialidades da região como: designe, Minério, Corte e Costura. 


Não faz muito tempo que o professor Antonio Neves publicou em seu blog um texto no qual ele  questionava a razão pela qual o governo estava priorizando a criação de mais uma universidade quando o ensino fundamental e médio encontram-se, em muitas escolas da região, em situação bastante difícil.


É fato que uma breve olhada em escolas municipais e estaduais da nossa Caicó nos possibilita perceber que ainda há muito a avançar, tanto em termos físicos, estruturais e organizacionais.


Sem desconsiderar a importância da criação de mais uma universidade para a nossa região, também devemos indagar por que não ampliar o CERES de Caicó, que possui uma enorme área vazia que poderia se transformar em novas salas de aulas e repartições para criação de novos cursos.


 A seguir, reproduziremos os recentes discursos dos padres João Medeiros e do Professor Antonio Neves, por considerarmos relevantes para reflexão sobre este fato.


PADRE JOÃO MEDEIROS


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"É preciso que tenhamos bem definidos o que nós pretendemos, em termos de cursos, para que não haja redundância. Levei para o Seridó há 40 anos ensino público, levei também para o Seridó o ensino privado e alguns cursos não estão em consonância com a realidade da região. Ao se criar uma universidade para o Seridó, nós devemos ter um espaço que reflita as politicas particulares, governamentais e próprias do Seridó.

Até o dia de hoje eu não conheço nenhum curso no Rio Grande do Norte voltado para o Sal, a extração, a qualidade e a comercialização do sal. Os gaúchos estão mais avançados do que nós, eles tem curso superior de churrasco; na universidade de Caxias eles têm o curso de vinhos. Nós não temos nenhum curso voltado para as nossas regiões. Talvez para Caicó fosse necessário elencar uma série de cursos, para que, não só alavancar o desenvolvimento do Seridó, mas que fosse capaz de sensibilizar os técnicos do MEC.

Como é que nós vamos chegar em Brasília e pedir um curso de Ciências Contábeis, se nós temos em todo lugar? As freiras do Amor Divino estão fechando as faculdades porque oferecem cursos que em qualquer lugar tem. Em Assu tem um curso de Ciências Contábeis a 500 metros de distancia da UERN que oferece o mesmo curso gratuitamente. Então é fundamental que ao elaborarmos tudo isso coloquemos no papel tudo que pretendemos. Isso não vai entrar em rota de colisão com as demais universidades do Estado. Nós queremos uma universidade que tenha a autonomia da criação de cursos. Hoje eu levo mais de quatro anos para ter o credenciamento de um curso de nível superior e quando eu consigo as coisas já estão superadas. Se nós pretendemos um curso de gastronomia para Caicó, que se faça imediatamente. Daqui a pouco vem um gringo ou um chinês e vai dizer que o queijo e a carne de sol de Caicó é da China e vai patentear. Nós pretendemos cursos de gestão de Saúde e cada vez mais são coisas delicadas. Nós queremos um curso que eu chamo de moda, de bordados.

O bordado do Seridó é uma cópia fiel, uma herança de Bruges, na Bélgica. Isso não tem um espaço universitário e acadêmico e é preciso que isso seja aproveitado, porque daqui a pouco vem um cearense, apresentando um bordado genérico do Ceará como se fosse um bordado de Caicó. Eu desafio daqui a dez anos existir um seridoense que saiba o que é aluar, nós temos uma culinária própria e o curso de gastronomia seridoense iria preservar a nossa cultura, a mão de obra e valorizar a engenharia de alimentos.

Estou mostrando pequenos exemplos que devem enriquecer o nosso projeto pedagógico. Claro que o Estado vai colaborar com toda a realidade infra-estrutural e assim por diante, mas os prefeitos devem expressar os seus anseios técnicos. Eu levei para Caicó há 40 anos dez cursos que não vigoraram porque eram cursos alienados para a realidade do Seridó, e nós não queremos que se repita isso. Eu já estou cansado de fundar tanta faculdade e ver fechada. Não convém realmente abrir uma Universidade Federal para amanha ela fechar. É preciso que na verdade nós delineemos toda essa parte técnica que na verdade é mais importante para sensibilizar o MEC. Quem vai analisar esse projeto são os técnicos do MEC, os políticos vão votar mediante um parecer técnico e bem fundamentado”.

PROFESSOR ANTONIO NEVES 

Em nome de uma nova universidade para o Seridó; tradicionalistas repensam a região de cima pra baixo
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Debater a educação é sempre uma oportunidade de trazer a tona seus problemas, desafios e possibilidades. No Seridó e mais precisamente em Caicó, ai sim, é que o tema ganha contornos que precisam ser considerados na hora de diferenciar o porquê de defendermos este ou aquele modelo de educação, qual o melhor investimento e seus principais beneficiados.
O debate sobre a Universidade Federal do Seridó volta à tona. Desta vez ganhou novos adeptos, com poder e influência capaz de acelerar a implementação de tal projeto. Lembro que em 1998 certo vereador da esquerda local levantou este mesmo debate; foi ignorado. Muitos dos que hoje assumem a bandeira da necessidade de uma nova universidade para o Seridó, naquele momento foram contra, alegando que já tínhamos uma universidade, - a UFRN (Campus do Seridó) - e que o ideal seria investir para que a mesma ganhasse novos cursos e investimentos. Agora fazem coro por outra universidade. O que será que mudou?
Sem sombra de dúvida, precisamos cada vez mais melhorar as condições do Ensino Superior e dentro dele proporcionar a toda uma geração, o acesso à cidadania e as oportunidades da aquisição do conhecimento humano, científico e profissional. Mas a mesma tradição que aponta para estes caminhos, diz também que, não se chega a uma universidade sem antes, não trilhar, desde a infância, os bancos escolares do ensino infantil e fundamental, porém, argumentos que reforçam os conceitos da tradição cultural em nome da manutenção de um status quo educacional sem a preocupação de enxergar a universalização da problemática de todo o sistema de ensino em questão, que vai deste a insuficiência do Ensino Infantil/Fundamental até a supervalorização do Ensino Superior, pode revelar o que esta tradição, desarticulada com o resto do processo em voga, subtrai no seu contexto histórico.
No âmbito dos interesses do desenvolvimento local, afirmo, sem desviar-me do foco central do debate, que não se pode resolver o problema do acesso e investimentos para o Ensino Superior, ignorando, sistematicamente e socialmente, a crise por que passa o ensino infantil e fundamental em nossa cidade e região.
A velha lógica da tradição de poder no Brasil, por onde passa também as fórmulas mágicas e insuficientes de investimentos para a construção dos sistemas educacionais brasileiros, (infantil, fundamental, técnico-profissional e superior) sempre se mostra contraditória na hora de enxergar velhos problemas acumulados nas órbitas destes sistemas, quando procuram resolver questões de ponta (como a criação e instalação de novas universidades), adotando uma leitura analítica de cima pra baixo, como querem fazer agora com o debate levantado sobre uma nova universidade para o Seridó. Primeiro construímos novas universidades, mesmo que paralelamente o ensino infantil /fundamental público não esteja dando respostas para pavimentar o acesso de jovens e adultos até essas universidades, onde quer que elas estejam instaladas.
Não sou contra uma nova universidade para o Seridó. Jamais! Mas suspeito que o rumo das prioridades esteja invertido, o que só evidencia o distanciamento em que estão muitos dos que fazem coro a este projeto, com a realidade por que passam 70% do sistema educacional públicos vinculados ao Estado e aos Municípios na nossa região. É como se não houvesse nenhuma associação entre os caminhos que se começa a percorrer lá no ensino infantil/fundamental, com os que levam aos bancos de uma universidade pública. Sob a lógica em discussão, o que se percebe é que, o distanciamento entre uma ação e outra não permitem uma articulação entre si, nem tão pouco geram a sinergia necessária para romper com o elitismo que valoriza uma e o descaso que abandona a outra.
Que bom seria se esses senhores e senhoras, homens e mulheres influentes da sociedade caicoense, que estão imbuídos politicamente em trazer a Universidade para o Seridó, dispensassem parte desta dedicação para procurar discutir e resolver coletivamente o problema do Ensino Infantil e Fundamental públicos da nossa cidade. Oportunidades não faltaram, nem haverá de faltar. Estes sistemas agonizam visivelmente, mas a maioria prefere virar as costas para a situação, mesmo que os filhos do Seridó e de Caicó, tão louvados nas falas proclamadas dos que defendem a nova Universidade, vivam o dilema de ter que encarar todos os dias, o sucateamento da escola pública local, que vai desde problemas, GRAVES, na sua infraestrutura, passando por uma total falta de investimento e projetos pensados, planejados e discutidos com toda a comunidade que favoreça a construção político-pedagógica de mecanismos que eleve a qualidade do ensino básico, valorizando o cidadão como sujeito que tem o direito de chegar ao Ensino Superior pelas vias mais democráticas que movem uma escola pública e universal, sem que uma, por ser básica, seja inferior a que está no topo do status quo do sistema de ensino superior.
Talvez ai esteja a grande contradição do discurso atual dos que adotaram a bandeira de uma nova universidade para o Seridó, com sede em Caicó, quando ao mesmo tempo, ignoram, sistematicamente, a situação calamitante da degradação do ensino básico/fundamental das escolas públicas, principalmente as municipais e, com isso promovem uma campanha de mão única, olhando apenas para um lado do campo onde jogam com a tradição que, como sempre, pensa o Seridó pelas conveniências de sua elite pensante, sempre de cima pra baixo.
Uma nova universidade para o Seridó é tão importante quanto a necessidade de ter que dá melhor qualidade e funcionalidade as escolas de nível básico/fundamental, que vivem uma crise genérica e crescente de sustentabilidade, no entanto, os olhares da velha e tradicional elite local, acostumada a enxergar apenas o que os interesses imediatos sugerem, não permite (por N fatores) forçar, coletivamente e publicamente, o verdadeiro debate que o ensino e a escola pública no nosso município precisa fazer para sair do estado de decomposição que suas contradições apontam sem conseguir desobstruir os caminhos que, no passado, eram trilhados pelos filhos dos mais abastados em busca de vida melhor nos Campus de ensino das capitais, caminhos estes, até hoje trilhados e sem volta, exatamente porque, ao vivo, a realidade do ensino e da escola pública por aqui é bem pior do que revelam as boas intenções das tradições.
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