quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Considerações sobre as origens de algumas representações acerca do espaço seridoense


Quando se fala em Seridó, ainda hoje, logo se associa esse espaço a imagem do vaqueiro, dos currais de gado, vaquejadas, das plantações de algodão, da carne de sol. O que explica essas associações que mesmo na realidade atual, na qual se tem consciência da falência da economia algodoeira e das dificuldades dos criadores de gado em dar continuidade a essa atividade econômica, continuam a povoar as representações  que se tem do Seridó.

Olhando um pouco em direção a história do surgimento das cidades seridoenses iremos vislumbrar, por volta do século XVI,  famílias se instalando próximo a alguma fonte de água como rios, poços e lagos para se fixarem em currais de gado. Foi próximo a essas fazendas que surgiram capelinhas, povoados e cidades ribeirinhos.

É nesse passado do Brasil colonial que irar surgir espaços no Seridó voltados para a criação de gado, povoações e cidades que serviam como locais de pouso para vaqueiros e para o gado que eles transportavam para serem comercializado e outras localidades da capitania do Rio Grande ou de outros estados do nordeste.

Será a criação de gado no Seridó que irar abastecer o Rio Grande e outras capitanias nordestinas de gado para força motriz nos engenhos, para produção de carne seca, carne de sol, além de utensílios e vestimentas de couro (como gibão, sela de cavalo, chapéu) que serviam para proteger o vaqueiro da mata fechada e cheio de espinhos que caracteriza a caatinga, que é a vegetação da região.

Assim, nos arredores dessas fazendas de gado, oficinas de carne seca, de carne de sol e de fabricação de couro irão surgir Caicó, Currais Novos, Jardim de Piranhas e tanta outras cidades seridoenses.

Outro importante  produto econômico do nosso estado dos idos da época colonial foi o algodão. O nordeste brasileiro, com destaque para o Seridó, tinha clima e solo adequado para a produção do algodão arbóreo (conhecido como mocó), que além de se tratar de uma planta nativa das América se destacava pelo fato de o seu plantio poder ser conciliado com outras atividades econômicas, como a criação de gado e o cultivo de milho, feijão e mandioca.

Alguns fazendeiros tinham maquinas bolandeiras, utilizadas para descaroçar o algodão; aqueles que não possuíam vendiam o seu algodão  para aqueles que possuíam. Nas cidades alguns comerciantes passaram a se dedicar a atividade algodoeira investindo em industrias de beneficiamento de algodão, vendendo tanto para o exterior como para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro que no século XVIII já possuíam algumas industrias têxteis.

O crescimento da economia algodoeira no Seridó deve-se expansão da industria têxtil na Inglaterra no século XVIII; a guerra civil norte americana (1860); a seca de 1877/79 que fez com que em razão da elevada mortandade do gado os fazendeiros passassem a priorizar a produção algodoeira; a primeira e a segunda guerra mundial, que fez com que o governo brasileiro incentivasse a substituição de produtos importados.
Inicialmente o caroço do algodão servia como complemento da alimentação do gado. Com a modernização da economia, o surgimento de maquinas e técnicas para esmagar o caroço do algodão começou a surgir, a partir do século XX, varias indústrias de óleo e farelo a base dessa matéria prima.

A partir dessas inovações tecnológicas ocorridas no beneficiamento do algodão, o descaroçamento, a fabricação de óleo e farelo vão, gradativamente, tornarem-se atividades exclusivas de industrias instaladas nas cidades.

O desenvolvimento da economia algodoeira fará do Seridó uma região de atração populacional, estimulando o desenvolvimento do comercio, da infra estrutura, a geração de emprego e renda, o crescimento das cidades e dando aos políticos do Seridó uma significativa importância na política do estado. No entanto, está realidade passará por mudanças a partir da década de1950, quando o setor algodoeiro começa a entrar em crise.

Percebe-se que mesmo que o algodão não seja mais um produto de peso na economia seridoense e que a atual falta de incentivos aos criadores de gado dificulte a continuidade dessa atividade, o passado glorioso propiciado pelas historias dos vaqueiros, dos mitos acerca dos surgimento das cidades , além da geografia ostentadora de riqueza  e poder do algodão faz com que a imagem do Seridó e do seridoense não se desprenda da memória e dos registros daquele tempo.

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