sexta-feira, 2 de abril de 2010

CELIBATO E PEDOFILIA



As constantes acusações de pratica de pedofilia por parte de membros do clérigo católico têm ocasionado uma imediata onda protestos e, conseqüentemente, de perda de credibilidade da religião católica.

Recentemente, na Europa, com destaque para Alemanha e Irlanda, e nos Estados Unidos, reiteraram-se as acusações de abusos sexuais cometidos por padres e de uma possível negligencia do papa Bento XVI com relação a esses fatos.

O mais novo capitulo dessa novela aconteceu na missa dessa sexta feira (02/04/2010), quando o pregador oficial do papa, Cantalamessa, fez uma declaração comparando as acusações contra a igreja católica e contra Bento XVI a uma violência coletiva semelhante ao anti-semitismo sofrido pelos Judeus.

O fato é que tais Declarações não foram bem recebidas por muitas pessoas em todo o mundo, principalmente aquelas que sofreram abusos sexuais praticados por clérigos. Além disso, membros de associações judaicas consideram tais declarações infelizes e inconseqüentes, uma vez que tal comparação minimiza fatos como o Holocausto (morte de 6 milhões de Judeus no período da 2º Guerra Mundial), do qual os Judeus foram vítimas.

O fato é que esta situação em que se encontra a Igreja Católica faz com que todos nós fiquemos diante de uma pergunta inevitável: qual seria as causas desse mal que a tanto tempo vem atingido a comunidade católica?

As primeiras respostas advindas da opinião popular podem parecer simplistas, mas, ao contrario, explicam com precisão a origem do problema: psicopatia, demência, falta de vergonha na cara, desumanidade etc, etc, etc...

Outro ponto que nos traz a uma reflexão diz respeito ao celibato. Seria mesmo necessário – para pregar o evangelho, para servir ao nosso senhor Jesus Cristo – passar a vida inteira sem ter uma vida sexual? Sem poder constituir família? Abster-se da alegria de brincar com os filhos e de vê-los crescer.

Sinceramente, a idéia de abstinência sexual e de celibato, sendo que esta ultima significa permanência no estado de solteiro, defendida na perspectiva de personalidades importantes da historia cristã – como o apostolo Paulo – me parece claramente insólita. Essa moral cristã se apóia na defesa de que a permanência no celibato seria condição indispensável para que o homem ou a mulher tivessem uma vida de inteira integra as causas divinas, desapegado das coisas mundanas, dos desejos da carne. Nas palavras do apostolo Paulo:

“Solteiro o homem está preocupado com as coisas do Senhor, a forma de agradar ao Senhor. Porém, o homem casado está preocupado com as coisas mundanas, como agradar a sua esposa, e seus interesses estão divididos. E a mulher solteira está preocupada com as coisas do Senhor, como ser santa no corpo e espírito. Mas a mulher casada está preocupada com as coisas mundanas, como para agradar o marido. Digo isto para seu próprio benefício, para não estabelecer qualquer restrição sobre você, mas para promover a boa ordem e para garantir o seu indiviso devoção ao Senhor." (versículos 32-35)

No entanto, nas historias de vida encontramos indícios de que a abstinência sexual podem está associadas a possíveis razões para a pratica da pedofilia. Alguns, hipocritamente, ou por paixão religiosa podem até negar tal suposição alegando que há casos de pedofilia também envolvendo pessoas casadas ou que há padres que, não conseguindo abnegar ao desejo da carne, relaciona-se com mulheres. A primeira argumentação eu refuto dizendo, simplesmente, que eu não seria tão inocente em afirmar que o celibato é a única causa da pedofilia, pois é lógico que este mal tem varias razões e variam de caso a caso. Em relação a segunda afirmação respondo que  o sujeito, covarde, que comete pedofilia sabe que a criança abusada sexualmente tem motivos e medos que a impede de falar, diferente de uma mulher madura, convicta de seus ideais, que não tem o que temer.

A idéia de que o celibato tem relações com casos de pedofilia encontra sustentação em psicólogos, como Umberto Galimberti.O celibato provoca o que ele chama de mutilação espiritual. A sexualidade, tanto na dimensão física do ato sexual como na afetiva e emocional das relações entre os indivíduos, seriam elementos constitutivos do espírito, de valores a como respeito, carinho, solidariedade entre outro. Sem a sexualidade o individuo vive, internamente, um conflito entre pulsões sexuais e agressivas, de um lado, e regras de contenção, de outro que desemboca em reações violentas como é o caso da pedofilia.

Reitero que não tenho a intenção de postular que o celibato é a causa absoluta e única para os casos de pedofilia envolvendo membros do clérigo, mas, acredito que é uma de suas raízes. Não digo que o fim do celibato tornará extintos os casos de abusos sexuais dentro da igreja, mas, acredito sim que isso faria diminuir a freqüência desses casos.

Não vejo, na atualidade, justificativas racionais para continuar penitenciando homens e mulheres por uma vida inteira de renuncia a sexualidade. Alias a própria bíblia diz: crescei e multiplica-voz. Afinal, a vida em família é, também, campo fecundo para produzir boas obras.

Nenhum comentário: