Apesar do tapete vermelho estendido pelo
apresentador Jô Soares ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ao
entrevistá-lo na segunda-feira (11), se limitando a elogiá-lo e a fazer
perguntas amenas que levantavam a bola para Campos cortar, sem
explorar as contradições do interesse do público, o governador mostrou
as dificuldades que terá para entabular um discurso convincente,
tamanhas são as contradições com sua própria atuação política.
Tentando fazer um populismo com focos de insatisfação popular, o governador chegou a dizer que teria ido às manifestações de rua se não fosse governador. Como assim? Se ele queria protestar contra o aumento das passagens de ônibus, bastaria não ter autorizado o aumento antes das manifestações. É ele, como governador, quem autoriza, junto com a Assembleia Legislativa onde tem ampla maioria de apoio, as tarifas das linhas de ônibus que ligam Recife às cidades vizinhas, na região metropolitana. As tarifas dos ônibus municipais também estão sob controle do prefeito, Geraldo Julio, de seu partido, PSB, aliado fiel.
E o que dizer dos protestos contra os gastos na construção dos estádios para a Copa? Campos foi um entusiasta de Recife ser uma das cidades-sede. É o responsável pela licitação, construção e concessão a um grupo privado para explorar comercialmente por 30 anos. Como ele iria protestar contra ele mesmo? Fosse um líder de maior grandeza, em vez de abaixar a cabeça para críticas simplistas, inclusive com números equivocados, abriria a planilha de custos com transparência e defenderia sua obra como um investimento para impulsionar o desenvolvimento econômico na área do turismo e do entretenimento esportivo, cujo objetivo é trazer retorno para o estado e para a sociedade na forma de empregos e dinamização da economia.
Além disso, defenderia os investimentos em obras viárias, transporte público, aeroportos, moradia, saneamento, reforma e ampliação de hospitais e de UPAs, redes de fibra ótica, enfim, infraestrutura, que são investimentos sociais e vieram junto com o planejamento da Copa. Mas, sobre o assunto, Campos não falou uma palavra.
Por fim, assim como em outros estados, em Pernambuco também há o questionamento sobre casos de abusos da polícia na repressão de manifestantes, há o debate sobre a desmilitarização da polícia. Campos é governador há sete anos. No mínimo deveria ter uma experiência a dizer sobre os prós e contras e os caminhos e desafios para tornar a polícia mais cidadã. E há queixas do professorado com as deficiências na educação em Pernambuco, a começar pelos baixos salários, além de muitas deficiências na saúde para serem corrigidas. Inclusive, há muitos municípios pernambucanos que estão recebendo médicos estrangeiros pagos pelo governo federal porque havia falta de médicos até hoje.
Outra escorregada de Campos foi quando Jô usou uma pergunta para criticar o número de ministérios do governo Dilma, e questionou o fato de Pernambuco ter 27 secretarias. Campos, após justificar por que foram criadas até com o bom argumento de dar maior visibilidade e dimensão política a causas como a da violência contra as mulheres, disse considerar serem muitas as 27 secretarias e que vai reduzi-las. De novo é espantoso. Depois de sete anos no governo, no apagar das luzes é que vai reduzir? O número de ministérios ou secretarias não é um problema em si. O governo Collor reduziu ao mínimo os ministérios e não teve sucesso.
O governo Lula elevou à categoria de ministérios muitas secretarias e obteve sucesso. Melhor muitos ministérios que funcionam e dão resultados do que poucos que não cumprem as obrigações do estado com a população. A Controladoria Geral da União (CGU) foi um ministério criado ao governo Lula. É essencial no combate à corrupção, depurando o governo, dissuadindo tentativas de atacar os cofres públicos, e cortando na própria carne quando é preciso. Só quem queira ser complacente com a corrupção pode defender a extinção deste ministério.
Por falar em combate à corrupção, quando perguntado sobre o assunto, Campos recorreu ao escapismo e se esquivou de explicar como faria e por que em Pernambuco não há uma Controladoria ativa como existe a CGU no governo federal. Na prefeitura de São Paulo, em menos de um ano, o prefeito Haddad replicou a experiência federal e já desbaratou uma máfia de fiscais. As polícias civis estaduais, subordinadas aos governadores, não tem o mesmo desempenho da Polícia Federal em combater a corrupção estadual, e não se nota empenho da maioria dos governadores para dar mais estrutura investigativa e independência para evitar ingerências políticas. De novo, o silêncio de Campos sobre esse assunto é preocupante, pois acaba por passar a imagem de que em seu governo coisas sujas são varridas para debaixo do tapete.
Campos também foi genérico demais ao falar em reforma política. Na contramão da urgência das ruas, chegou a sugerir que fosse feita para entrar em vigor daqui a uns 12 anos, de forma a conciliar os interesses dos políticos que estão acostumados a se eleger com as regras atuais. Uma enorme rendição às oligarquias políticas, contra o desejo popular de moralizar as campanhas eleitorais, livrando-se da influência excessiva do poder econômico. Grandes líderes políticos podem até perder nas votações, seja nas urnas, seja no Congresso, mas não podem abandonar a pregação das ideias importantes e essenciais que defendem.
A situação de Campos lembra a de Ulysses Guimarães em 1989. Depois de ser aliado e participar do governo Sarney, saiu candidato à presidência com um discurso dúbio de oposição. Não convenceu e teve uma votação muito menor do que a esperada. Hoje o quadro é diferente de 1989, mas a vacilação de Eduardo Campos é a mesma: alguém à procura de um espaço político artificial e até intelectualmente desonesto perante o cidadão eleitor, que faz a candidatura dele parecer um embuste.
As recentes manifestações mostram que a população quer mais objetividade, honestidade de propostas e de condutas e resultados mais práticos do que discursos embromadores. É tudo o que Eduardo Campos não ofereceu na entrevista do programa do Jô.
Fonte: Rede Brasil Atual
Tentando fazer um populismo com focos de insatisfação popular, o governador chegou a dizer que teria ido às manifestações de rua se não fosse governador. Como assim? Se ele queria protestar contra o aumento das passagens de ônibus, bastaria não ter autorizado o aumento antes das manifestações. É ele, como governador, quem autoriza, junto com a Assembleia Legislativa onde tem ampla maioria de apoio, as tarifas das linhas de ônibus que ligam Recife às cidades vizinhas, na região metropolitana. As tarifas dos ônibus municipais também estão sob controle do prefeito, Geraldo Julio, de seu partido, PSB, aliado fiel.
E o que dizer dos protestos contra os gastos na construção dos estádios para a Copa? Campos foi um entusiasta de Recife ser uma das cidades-sede. É o responsável pela licitação, construção e concessão a um grupo privado para explorar comercialmente por 30 anos. Como ele iria protestar contra ele mesmo? Fosse um líder de maior grandeza, em vez de abaixar a cabeça para críticas simplistas, inclusive com números equivocados, abriria a planilha de custos com transparência e defenderia sua obra como um investimento para impulsionar o desenvolvimento econômico na área do turismo e do entretenimento esportivo, cujo objetivo é trazer retorno para o estado e para a sociedade na forma de empregos e dinamização da economia.
Além disso, defenderia os investimentos em obras viárias, transporte público, aeroportos, moradia, saneamento, reforma e ampliação de hospitais e de UPAs, redes de fibra ótica, enfim, infraestrutura, que são investimentos sociais e vieram junto com o planejamento da Copa. Mas, sobre o assunto, Campos não falou uma palavra.
Por fim, assim como em outros estados, em Pernambuco também há o questionamento sobre casos de abusos da polícia na repressão de manifestantes, há o debate sobre a desmilitarização da polícia. Campos é governador há sete anos. No mínimo deveria ter uma experiência a dizer sobre os prós e contras e os caminhos e desafios para tornar a polícia mais cidadã. E há queixas do professorado com as deficiências na educação em Pernambuco, a começar pelos baixos salários, além de muitas deficiências na saúde para serem corrigidas. Inclusive, há muitos municípios pernambucanos que estão recebendo médicos estrangeiros pagos pelo governo federal porque havia falta de médicos até hoje.
Outra escorregada de Campos foi quando Jô usou uma pergunta para criticar o número de ministérios do governo Dilma, e questionou o fato de Pernambuco ter 27 secretarias. Campos, após justificar por que foram criadas até com o bom argumento de dar maior visibilidade e dimensão política a causas como a da violência contra as mulheres, disse considerar serem muitas as 27 secretarias e que vai reduzi-las. De novo é espantoso. Depois de sete anos no governo, no apagar das luzes é que vai reduzir? O número de ministérios ou secretarias não é um problema em si. O governo Collor reduziu ao mínimo os ministérios e não teve sucesso.
O governo Lula elevou à categoria de ministérios muitas secretarias e obteve sucesso. Melhor muitos ministérios que funcionam e dão resultados do que poucos que não cumprem as obrigações do estado com a população. A Controladoria Geral da União (CGU) foi um ministério criado ao governo Lula. É essencial no combate à corrupção, depurando o governo, dissuadindo tentativas de atacar os cofres públicos, e cortando na própria carne quando é preciso. Só quem queira ser complacente com a corrupção pode defender a extinção deste ministério.
Por falar em combate à corrupção, quando perguntado sobre o assunto, Campos recorreu ao escapismo e se esquivou de explicar como faria e por que em Pernambuco não há uma Controladoria ativa como existe a CGU no governo federal. Na prefeitura de São Paulo, em menos de um ano, o prefeito Haddad replicou a experiência federal e já desbaratou uma máfia de fiscais. As polícias civis estaduais, subordinadas aos governadores, não tem o mesmo desempenho da Polícia Federal em combater a corrupção estadual, e não se nota empenho da maioria dos governadores para dar mais estrutura investigativa e independência para evitar ingerências políticas. De novo, o silêncio de Campos sobre esse assunto é preocupante, pois acaba por passar a imagem de que em seu governo coisas sujas são varridas para debaixo do tapete.
Campos também foi genérico demais ao falar em reforma política. Na contramão da urgência das ruas, chegou a sugerir que fosse feita para entrar em vigor daqui a uns 12 anos, de forma a conciliar os interesses dos políticos que estão acostumados a se eleger com as regras atuais. Uma enorme rendição às oligarquias políticas, contra o desejo popular de moralizar as campanhas eleitorais, livrando-se da influência excessiva do poder econômico. Grandes líderes políticos podem até perder nas votações, seja nas urnas, seja no Congresso, mas não podem abandonar a pregação das ideias importantes e essenciais que defendem.
A situação de Campos lembra a de Ulysses Guimarães em 1989. Depois de ser aliado e participar do governo Sarney, saiu candidato à presidência com um discurso dúbio de oposição. Não convenceu e teve uma votação muito menor do que a esperada. Hoje o quadro é diferente de 1989, mas a vacilação de Eduardo Campos é a mesma: alguém à procura de um espaço político artificial e até intelectualmente desonesto perante o cidadão eleitor, que faz a candidatura dele parecer um embuste.
As recentes manifestações mostram que a população quer mais objetividade, honestidade de propostas e de condutas e resultados mais práticos do que discursos embromadores. É tudo o que Eduardo Campos não ofereceu na entrevista do programa do Jô.
Fonte: Rede Brasil Atual
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