Algo bastante comum, entre muitos de nós cidadãos, é lamentarmos
sobre a classe política do nosso país, taxando-os de mentirosos, desonestos,
corruptos e dos mais diversos adjetivos. Muitos chegam até a um radicalismos
desmedido e acabam generalizando, colocando todos políticos no mesmo
“barco”, com argumentos do tipo: São
todos corruptos, desonestos, ladrões, farinha do mesmo saco.
Falta, no entanto, entre a maioria de nós, a atitude da auto
reflexão, de pensarmos sobre as escolhas passadas, de ver, inclusive, os erros
que cometemos enquanto eleitores.
Quantas vezes já não votamos em determinado cidadão pelo nosso
grau de parentesco com os mesmos, pela amizade, pelo sorriso, pelos tapinhas
nas costas. Quantos não trocam seu voto, e a sua dignidade, por exames médicos
ou por remédios. Muitos são os acordos que são feitos entre eleitores os seus
futuros governantes e legisladores. Depois, fica muitos fácil reclamar e fazer
um julgamento generalizante, unilateral, taxando todos os políticos como
corruptos e arranjando para si um lugar de santo no altar.
Será que são só os políticos que são corruptos?
Para contribuirmos com essa reflexão, é interessante resgatar,
aqui, as ideias de um pensador que viveu nada mais, nada menos, que há 2.600
anos atrás, chamado de Confúcio.
A 2.600 anos alguém perguntava a Confúcio: o que faz alguém
merecer ser chamado de capaz?
E Confúcio respondeu: Quem se comporta de forma honrada, [...]
Pode-se confiar em sua palavra [...] tudo que empreende leva até o fim [...] é
qualificado para ser capaz.
E continuaram perguntando: E como o senhor avalia os nossos
governantes atuais?
Confúcio respondeu: Ai! Essa classe de miserável nem deveria ser
levado em conta.
Ainda que, com a segunda resposta, Confúcio cometia o erro de
incluir todos no mesmo barco, seu pensamento é de uma atualidade que
impressiona. A 2.600 anos atrás já havia o mesmo negativismo em torno da classe
politica. Através de suas ideias, o que Confúcio propunha era um governo
pautado pela seriedade, pela capacidade dos governantes, aonde aqueles que
assumissem a tarefa de governar realmente fossem qualificados para tanto, que
não envergonhasse seu povo.
Porém, na democracia brasileira, somos nós que, através desse
imenso “concurso público” chamado de eleição, temos o dever de escolher aqueles
mais qualificados. Então por que não temos feito isso?
Tal reflexão é necessária. Porém, não se trata buscar para si um
sentimento de culpa, pois, a culpa também nos engessa e nos aprisiona entre
muros de lamentações. Trata-se de reconhecer nossa responsabilidade nessas
realidades que são criadas a partir das nossas escolhas.
É repetitivo, redundante, mas, necessário relembrarmos que a
mais de um século temos contribuído para criação de nossos coronéis. Não quero,
contudo, dizer que somos iguais a eles. Pois fazemos o que fazemos não
simplesmente por malcaretisse, mas, principalmente, por que muitos são
manipulados pelos valores e ideologias criados e disseminados por aqueles que
estão no topo do poder.
Paulo freire, em seu pensamento de educador, já nos ensinava que
os oprimidos muitas vezes incorporam os discursos e as posturas de seus
próprios opressores e, com isso, ajuda a propagar esses discursos e essas
posturas que nos aprisiona ainda mais.
E por que isso acontece? Porque quem está no poder domina a
elaboração de currículos educacionais; domina parte dos meios de comunicação,
tem controle sobre partidos, inserem-se nos mais diversos mecanismos de
formação de opinião e, desse modo, busca de todas as formas moldarem as nossas
formas de pensar e agir.
Mas com isso não quero, aqui, incentivar o negativismo, não
estamos em um beco sem saída. Há professores críticos, que dissecam os
currículos, que buscam contribuir para formação de mentes capazes de fazer a
critica a esses mecanismos de manipulação e de resistir; a radialistas,
jornalista, blogueiros, profissionais sérios que buscam, em seus espaços de
atuação, fazer confronto a todas essas artimanhas que partem daqueles que
muitas vezes possuem o poder como forma de buscar vantagens pessoais. Por fim,
eu acredito que há políticos sérios, comprometidos, com vontade de fazer o bem,
inclusive, aqui na nossa cidade.
Cabe a nós, enquanto eleitores, buscar potencializar a nossa
capacidade de escolha, buscar nos
informar, filtrar as informações, analisar diferentes fontes, de acompanhar os
mandatos daqueles que elegemos.
Cabe a nós, cidadãos, resistir às tentativas cooptação, as
promessas de vantagens pessoais, aos cargos de confiança, aos remedinhos,
exames, cestas básicas e trocados oferecidos em época de campanha e que cujos
juros são sempre muitos altos e repassado na fatura de todo o conjunto da
população.
Mas uma vez estamos nos aproximando de uma eleição. Nesse ano,
escolheremos governadores, deputados estuais e federais, senadores e presidente
(presidenta) da republica.
Temos, outra vez, o futuro do nosso país na ponta dos dedos.
Cabe, novamente, a auto-critica. Escolheremos seriedade, honestidade,
compromisso e capacidade? Ou continuaremos escolhendo os velhos sorrisos de
sempre? A escolha é sua! As consequências são para todos!