Alunos violentos, indisciplinados, que demonstram falta de interesse, desrespeitam colegas e professores é algo cada vez mais constante em nossas escolas. É impossível apontar uma única causa para tantos problemas, mas é imprescindível a necessidade de estarmos constantemente refletindo, pensando soluções e assumindo posturas afim de que possamos garantir uma melhor aprendizagem para os nossos alunos.
Dialogando com Freud, descobrimos que os impulsos mentais que podem esta na origem desses comportamentos de nossos educandos é algo presente em todos os indivíduos, afinal, quem nunca teve um ímpeto de fúria? Quem nunca se arrependeu por ter se comportado de maneira precipitada, por ter tomado uma atitude que poderia ter sido evitada?
Sigmund Freud nos ensina que estamos todos sobre efeito de uma guerra interna, travada no cerne de nosso ser, um conflito necessário onde três forças beligerantes – o id, o ego e o superego – estão em constante confronto.
O id, a mais antiga dessas forças bélicas, já nasce conosco, sendo a primeira a marca posição no campo das operações que ocorrem em nossa mente. Por ser a mais antiga é também a mais centralizadora, autoritária, que constitui a nossa personalidade – que é o espaço disputado por as mencionadas potências. Os nossos impulsos e desejos, as emoções e nossas buscas pela satisfação imediata são alguns dos praças que compões as forças do id.
A outra força envolvida nessa batalha é o ego. Esse surgi como uma necessidade dos indivíduos de controlar os seus impulsos, os desejos originários do id. Se não houvesse o ego as forças do id seria incontroláveis. No entanto o ego controla os impulsos do id ao mesmo tempo em que lhe faz concessões.
Quando estamos com fome, ou quando simplesmente somos incitados pelo desejo de comer algo que os nossos olhos vêem, são as forças do id que estão em ação. Pensemos agora que isso ocorra num momento em que estejamos entrando em uma lanchonete e repentinamente os nossos olhos são seduzidos por uma deliciosa pizza que o garçom está servindo na mesa de alguém. Diante dessa situação somos tentados por um desejo de devorar aquela peculiaridade da cozinha italiana. Nesse instante, se não fosse a intervenção do ego, o nosso id liberaria uma energia que nos faria avançar sobre o nosso alvo feito um animal selvagem e faminto, o que provavelmente não acabaria bem. São em ocasiões como essa que o nosso ego entra em ação, ele também deseja que o nosso corpo sinta a satisfação de comer aquela pizza. Porém, o ego não quer que soframos as conseqüências de uma atitude precipitada. Assim, o ego nos conduziria a reflexões do tipo: esse não é o momento oportuno, posso tentar pegar quando ninguém estiver vendo.
A terceira força presente nessa batalha psíquica é o superego, cuja moral, a ética, as noções de certo e errado são alguns de seus soldados. O superego, no exemplo citado anteriormente, seria o responsável por reflexões do tipo: não posso tomar a pizza daquele que pagou por ela, pois não gostaria que o mesmo ocorresse comigo; posso esperar receber a minha mesada para pagar por uma igual a essa.
Percebe-se que tanto o id, o ego e o superego divergem enquanto os métodos mas convergem enquanto o propósito da satisfação do ser, a realização de um momento em que os impulsos são liberados, fato esse que é responsável pelos momentos de trégua entre as mesmas.
Partindo dessas premissas que encontramos em Freud é possível considerar que as atitudes dos nossos alunos estão relacionadas a impulsos oriundos, em muitos casos, de desejos reprimidos, censurados pelo superego. Assim, seria pertinente indagar – ao vermos um aluno bater na carteira ou num colega – qual a origem daquele impulso? Quem ou o quê deveria ser o real alvo objetivado pelo inconsciente daquela criança? Em fim, por qual motivo aquele aluno está a se comportar daquele modo?
O superego é responsável por limitar as pulsões do ego e do id, regulando o que é possível ou não na busca pela satisfação individual sendo pautado por normas de condutas, valores éticos aprendidos e reconstruídos pelos indivíduos durante o curso da vida social.
No entanto, do mesmo modo que essas regras de condutas, valores morais, são necessárias a uma vida em sociedade podem também aprisionar os indivíduos. Supomos, por exemplo, uma criança que adora está mexendo com as mãos, construindo edifícios com dominó, fazendo boneco de barro, cortando papéis para dar uma forma desejada. Diante da atitude da suposta criança os pais passam a considerar que a mesma possui uma tendência a ser desorganizada, bagunceira. Assim, a criança poderá aprender que a sua atitude de está sempre se utilizando das mãos não é correta mudando, contudo, o seu modo de agir pautada nos ensinamentos de seus pais. Porém, o desejo reprimido de utilizar-se das mãos continuará a existir passando a habitar o inconsciente do individuo e, cedo ou tarde, tenderá a se manifestar. Desse modo, o escape oportuno, ou não, encontrado por nossa criança fictícia de expressar sua criatividade manual poderá vir através de um soco desferido contra um colega.
Tornar o ego mais independente do superego, encontrar formas para que os alunos expressem os seus desejos, pode ser um interessante caminho para reduzir a violência e a indisciplina escolar.
Não se trata de dispensar os valores morais aprendidos socialmente. Porém, é imprescindível, para o pleno desenvolvimento da personalidade, que o individuo conheça a si mesmo, saiba realmente o que quer, o que lhe proporciona prazer. Trata-se de oportunizar aos alunos momentos para contrapor os seus valores a seus desejos, questionar sobre a real validade das normas aprendidas, até que ponto elas devem ser aceitas, reelaboradas ou até mesmo descartadas.
A democratização do debate entre alunos, professores, diretores, supervisores e demais funcionários das instituições de ensino, no intuito de repensar práticas escolares e normas de condutas na escola é uma estratégia possível quando se quer criar soluções para que o ambiente escolar seja também um ambiente favorável a expressão dos impulsos e desejos do educando.
Aproximar-se do aluno, conhecê-lo, conduzi-lo ao autoconhecimento pode ser, além de um possível caminho para redução da indisciplina e da violência na escola, uma maneira de tornar essa instituição um lugar de produção e criatividade, revelando talentos e formandos cidadãos cônscios de seu papel no mundo.